Depois de percorrer algumas das principais salas de teatro de Santos e diversas cidades da nossa região em turnê comemorativa pelos 55 anos da criação do grupo Teatro Experimental de Pesquisas (TEP), passando por rico processo de construção e maturação do espetáculo O baú de Candoca, finalmente o ciclo por ele descrito se completa ao se apresentar nas dependências da Casa das Culturas de Santos, em que realiza uma das últimas apresentações da sua vitoriosa temporada.

Esta apresentação especial de O Baú de Candoca acontecerá no próximo dia 06 de julho, às 17 horas, no casarão da rua Sete de Setembro, n.º 43, no bairro Vila Nova, em Santos, com entrada franqueada ao público e faixa etária indicativa para maiores de 14 anos.
O espetáculo foi concebido a partir da adaptação teatral do conto homônimo de autoria da reconhecida artista portenha, radicada em Santos, Beatriz Rota-Rossi, permanente colaboradora do grupo, com o qual mantém em sentinela sua parceria. Contou também, para o desenvolvimento da sua narrativa, com intervenções eventuais provocadas pela obra musical, gentilmente cedida, do artista, e igualmente colaborador do grupo, Julinho Bittencourt, que assina a trilha original do trabalho.

Estruturado em fases construtivistas, a montagem do espetáculo se desenvolveu ao longo de vários meses de 2023, obedecendo a etapas importantes para o seu aprimoramento, em que constam a leitura dramática do texto abordado, aberta ao público (março: Espaço Bangalô e Consistório Unisanta); abertura de processo, para convidados (abril e maio: sala D52 – Unisanta); ensaio aberto, para convidados (junho: sala D54 – Unisanta); 27.º Fescete (junho: Teatro Municipal Brás Cubas); apresentações (agosto, setembro e outubro) no Teatro Guarany, Teatro Rosinha Mastrângelo (Santos) e Teatro Procópio Ferreira (Guarujá), buscando nesse percurso, através da experiência e avaliação pública, alcançar o aprimoramento e definição dos fazeres para a conclusão do seu processo final, cujos resultados ora se apresentam.

O espetáculo, montado sob a forma de Teatro-Painel, que se desenvolve entre a estética da contação de histórias e o universo do circo, aborda, de forma farsesca, a degradação de uma família, de certa forma tradicional, a partir de episódios marcados pela cobiça, desprezo pelas convenções que fortalecem as relações entre as pessoas e, de forma catártica, a especulação imobiliária, tratando como viés dramático o desajuste com relação às questões etárias e seus códigos de respeito e ética.

O Baú de Candoca, além de contar com músicas compostas por Julinho Bittencourt e sonoplastia desenvolvida por Jota Amaral, tem na composição do seu elenco os atores Cesar Magalhães, Cícero Pinto, Edelvira Azevedo, Fabiano Santos, Livia Mendes, Mariana Gomes, Melissa Mardones e Adilson Secco, cuja faixa etária destes participantes varia entre 16 e 74 anos, uma das características do grupo. Completam a ficha técnica Tales Ordakji e Pedro Paulo Zupo, produtores do grupo e do espetáculo, respectivamente, contando ainda com Lindalva Parolini que, junto ao diretor do grupo, assina a criação dos figurinos, e Rose Magalhães, no desenvolvimento e elaboração das maquiagens.

Foto Ana Camparini

FICHA TÉCNICA
Texto original – Beatriz Rota-Rossi
Trilha original – Julinho Bittencourt
Sonoplastia – Jota Amaral
Adaptação, direção e iluminação – Gilson de Melo Barros
Assistência de direção – Fabiano dos Santos e Livia Mendes
Operação de sonoplastia – Pedro Paulo Zupo
Maquiagem – Rose Magalhães
Figurinos – Gilson de Melo Barros e Lindalva Parolini
Preparação vocal – Lilian Rocha e Melissa Mardones
Dinâmica de grupo – Fabiano Santos
Elenco – Adilson Secco / Cesar Magalhães / Cícero Pinto / Edelvira Azevedo / Fabiano Santos / Lilian Rocha / Livia Mendes / Mariana Gomes
Fotodocumentação – Tito Wagner e Ana Camparini
Imagens em vídeo – Guilherme Pimenta
Produção – Pedro Paulo Zupo e Tales Ordakji

Foto Tito Wagner

SOBRE O GRUPOO TEP, um dos mais antigos e atuantes grupos teatrais da nossa região, Santos / SP, em atividade desde 1969, tem sua origem no movimento de teatro estudantil santista, criando sua identidade calcada nas concordâncias com o Teatro Dialético e o Teatro de Autor, características da produção artística do período (anos 70). Marcando sua trajetória com um discurso claramente político voltado a uma ação experimental do fazer teatral, tanto do ponto do vista estético, quanto pela busca por novas linguagens expressivas que, em suas extensões, traduzem a postura comprometida do grupo.

Na passagem dos anos 70 para os 80, motivado por intensa movimentação dos grupos de teatro santistas, que se mobilizaram para acudir financeiramente o cartunista Henfil, internado devido a complicações decorrentes da AIDS, o TEP organiza memorável leitura dramática em prol do autor.

O socorro não chega a tempo, Henfil falece. Nanci Alonso, uma das fundadoras do grupo, passa então a liderar uma campanha pelo controle da qualidade dos conteúdos dos bancos de sangue no Brasil, ensejando, em Santos, a criação do Gapa/BS, que funciona nesta cidade até os dias hoje, tendo Nanci Alonso como atuante presidente desde então, e o TEP, um dos seus braços culturais em ação.

Os últimos 34 anos do grupo santista foram marcados pela parceria ininterrupta com a Universidade Santa Cecília, gerando, sob a coordenação de um de seus professores, Gilson de Melo Barros, integrante germinal do grupo, uma série de atividades teatrais a envolver a comunidade de Santos e região.

Em tempos praticamente recentes, o grupo houve por se adequar aos movimentos determinados pelo estado das coisas que a todos atingiu, a pandemia provocada pela disseminação do vírus da Covid-19, buscando, para tanto, se organizar produtivamente em ações alternativas que possibilitaram a sua estabilização e continuidade das suas atividades artísticas, dedicando-se neste período ao formato audiovisual de produção e difusão de forma remota.

Voltando gradativamente às atividades normais, o TEP dedica-se no momento à difusão do seu mais recente trabalho, O Baú de Candoca, em que, recuperando sua tradição de abordagem sobre temas espinhosos e de necessária investigação, desenvolve, com humor crítico e acentuado noncense, assuntos dimensionados pelo universo da perversidade impregnada no conceito de etarismo, fator tão presente e acentuado de incongruências nos dias de hoje.

Com este trabalho, o grupo celebra os 55 anos da sua criação, marcados por uma série de ações comemorativas de fixação da data e preservação das memórias desenvolvidas pelo coletivo ao longo desta trajetória.