A escritora Lúcia Maria Teixeira Furlani entrega à Ministra da Cultura, Anna Buarque de Hollanda, nesta quarta-feira, 9/11, em Recife, textos de Pagu, Patrícia Galvão, inéditos e escritos na prisão – uma carta ao filho Rudá, de 1936, e o manuscrito “No subterrâneo”, parte final de “Microcosmo – Pagu e o homem subterrâneo”, de 1939. O encontro será realizado na entrega do Prêmio Ordem do Mérito Cultural, organizado pelo Ministério da Cultura, na capital de Pernambuco.
O Ministério solicitou a assessoria da pesquisadora em todas as etapas da cerimônia. Desde a escolha do tema, por ela sugerido: “Pagu – Sonho Luta Paixão”, assim como seus livros serviram de base para a direção artística do evento e serão entregues pela Ministra às autoridades presentes.
Material inédito – “Microcosmo” foi o que restou de romance que Pagu pretendia publicar, quando fosse libertada. Ela foi a primeira presa política do Brasil e ficou detida quatro anos e meio, durante o governo de Getúlio Vargas.
“Microcosmo” foi o que restou de romance que Pagu pretendia publicar, quando fosse libertada. Ela foi a primeira presa política do Brasil e ficou detida quatro anos e meio, durante o governo de Getúlio Vargas.
Conforme Lúcia, nos anos 30, Pagu, antes de ser presa, enterrou o que seria a primeira parte de um romance não publicado, em terreno baldio em São Paulo, para impedir a apreensão da polícia. Ao ser libertada, Pagu voltou ao local para reavê-lo e constatou que no terreno havia sido construído um prédio. Mas Pagu escreveu o que viria a ser a segunda parte da obra na prisão, com textos sobre sua experiência pessoal, em poesia e prosa, que denominou “Microcosmo – Pagu e o homem subterrâneo – Correspondência, 1939”. Esses foram preservados e integram o acervo de Lúcia Maria Teixeira Furlani e do Centro de Estudos Pagu Unisanta, Universidade Santa Cecília, em Santos (SP).
Lúcia entregará à Ministra da Cultura o capítulo final do texto preservado, denominado por Pagu “No Subterrâneo”, uma alusão ao nome da primeira parte do romance enterrado e às condições em que se encontrava. O texto que vem à luz é um registro autobiográfico de Pagu na prisão, com sua vida destroçada e atormentada, cercada de pressões da polícia política e dos companheiros de partido, com o qual rompeu. Pouco tempo depois de ter escrito esse último texto, foi libertada, em 1940, muito magra e machucada física e emocionalmente.
Na carta escrita, no Presídio do Paraíso, ao filho do qual ficou muito tempo separada, Rudá, fruto de sua união com Oswald de Andrade, diz: “Filhinho, vendo as crianças dos companheiros presos, eu vejo você, minha querida parte da vida (…). Procure neste caos a justiça, a dignidade contra o parasitismo, a inteligência e a verdade, sem seguir um caminho apodrecido cheio de paliativos provisórios”.
Segundo Lúcia, a jornalista, musa da 3ª. Geração do Modernismo Brasileiro, política militante, dissidente política, romancista, desenhista e poetisa, incentivadora da Cultura, mulher precursora, Patrícia Rehder Galvão, Pagu (1910 – 1962) é uma constelação de vozes e imagens.
Lúcia tem divulgado, em suas obras, fatos e documentos que ficaram guardados durante décadas, possibilitando a reconstrução da Cultura e da Memória brasileiras e o acesso das várias gerações a este legado.
Segundo ela, “esta divulgação poderá transformar o passado, porque este assume uma forma nova, que poderia ter desaparecido no esquecimento, e pode transformar também o presente, se este se revelar a realização possível daquilo que foi sonhado”.
“Musa trágica da Revolução”, no dizer de Carlos Drummond de Andrade, Patrícia Galvão, viva, de forma colorida e ao mesmo tempo dramática, nos guia para uma das épocas mais efervescentes da vida cultural e política do País, por intermédio dessa incansável pesquisadora de Pagu, Lúcia Maria Teixeira Furlani, que, desde 1988, se dedica ao resgate da memória de Patrícia Galvão.
A biógrafa de Pagu, a escritora e pesquisadora Lúcia Maria Teixeira Furlani, começou a recolher há 23 anos o material para seu primeiro livro, Pagu – Patrícia Galvão – livre na imaginação, no espaço e no tempo (Editora Unisanta, 1988), transformado depois em filme (dirigido pelo filho de Pagu, Rudá de Andrade e Marcelo Tassara), ao qual se seguiram obras como Croquis de Pagu e Outros Momentos Felizes que Foram Devorados Reunidos (Unisanta/Cortez Editoras, 2004), VIVA PAGU – Fotobiografia de Patrícia Galvão, em coautoria com Geraldo Galvão Ferraz (Imprensa Oficial/Unisanta, 2010). Iniciativas culturais diversas sobre o tema, incluindo exposições itinerantes, debates, palestras no Brasil e no exterior, culminaram com a organização do maior arquivo existente no Brasil sobre Patrícia Galvão, o Centro de Estudos Pagu Unisanta, presidido por Lúcia.
O Centro de Estudos Pagu Unisanta, em Santos, reúne mais de 3000 arquivos originais e digitalizados sobre Patrícia Galvão, a grande maioria inédita. Colabora, assim, para difundir para todo o país essa memória, da qual é o depositário.
Lúcia apresenta a antropófaga Pagu destrinchando silêncios e, no mínimo, intrigando o interlocutor. Um antídoto contra a morte, ao afirmar a vida. Vida de Pagu, vida de uma época.
O último livro de Lúcia, Viva Pagu, comemorativo do centenário da musa modernista, e em coautoria com Geraldo Galvão Ferraz, é uma biografia ilustrada que traz a realidade brasileira, em momentos e situações psicossociais diversos, evidenciando a atmosfera de tempos de ruptura. Apresentação de documentos, obras de arte e imagens inéditas, imprescindíveis para a compreensão da cultura nacional e acompanhadas de textos explicativos.
Mudança de nome – É válido ressaltar que, a partir de junho de 2014, Lúcia Teixeira Furlani passou a assinar apenas Lúcia Teixeira.