epois do enorme sucesso nas pré-estréias regional (Santos) e nacional (São Paulo), o videodocumentário Renata, obra extraída de Revolution 9, de Marcelo Teixeira, com direção de Rudá de Andrade, foi exibido na TV Cultura, dia 23/11. A TV Cultura é co-produtora da obra, ao lado da Universidade Santa Cecília e Sistema Santa Cecília de Rádio e TV Educativas.
Grandes nomes do cinema, teatro e da música deram forma a versão cinematográfica de Revolution 9, uma obra de fôlego de Marcelo Teixeira, nascida a partir da leitura atenta dos diários da nadadora Renata Câmara Agondi, falecida em uma tentativa de travessia do Canal da Mancha, um braço de mar de 33 quilômetros de água gélida e escura entre a Inglaterra e a França, em 1988.
O livro ganhou as telas em produção enriquecida pelas atuações de dois grandes expoentes da dramaturgia nacional, Renato Borghi e Esther Góes. Livio Tragtenberg é quem assina uma trilha sonora especialmente composta para o filme. A qualidade poética de suas peças musicais valorizam sobremaneira o desfile de imagens.
Renata traz imagens em movimentos, um sem número de fotos e ainda o notável recurso da animação gráfica. Não dá para negar que George Mélies, pioneiro genial da fantasia no cinema, é uma das fontes inspiradoras de Rudá de Andrade. Mélies, primou pela integração dos mais diferentes recursos cinematográficos. O trabalho de animação de Emerson Bodadias dá vida aos criativos desenhos de Vallandro Keating, arquiteto que percorre os caminhos da arte, em traços mais que perfeitos.
Os diários que alimentaram a narrativa de Marcelo Teixeira ganharam de Renata Agondi a denominação Revolution 9, nome emprestado de umas das músicas do épico White Album (Álbum Branco), dos Beatles, uma de suas grandes paixões. O documentário é um registro pungente de uma existência relativamente curta, mas intensamente vivida. Renata, aquariana do terceiro decanato, era uma sonhadora, mas defendia com unhas e dentes seus ideais e convicções. Em tudo que realizou entregou-se de corpo e alma. A premunição do que ocorreria no fatídico 23 de agosto de 1988 não a impediu de levar adiante seus projetos.
Quando seus olhos fitaram as águas do Canal da Mancha, a nadadora parecia ter a certeza do que teria de enfrentar. Com a coragem de sempre encarou o desafio, o maior de sua vida. Mesmo diante da seqüência de erros e equívocos que culminariam de maneira trágica, Renata ousou ir além dos limites, um expediente que a caracterizou sobremaneira ao longo dos seus 25 anos.
Retrato fiel – No livro Revolution 9, Marcelo Teixeira conseguiu retratar fielmente a personalidade emblemática da jovem nadadora. Ele obteve uma visão poética e vital de Renata, recriando, com brilho, os diários nos quais a nadadora registrava o seu cotidiano, aliás diários pontilhados de revelações quase filosóficas. No documentário Renata, Rudá de Andrade dá uma amplitude maior ao lirismo presente na obra de Marcelo Teixeira.
Tal qual o livro, o documentário não enfatiza o trágico destino de Renata Agondi, ressalta sim o legado deixado pela atleta consagrada. Marcelo Teixeira, que ainda se divide entre as múltiplas tarefas exigidas por sua condição de Pró-reitor Administrativo da Unisanta e diretor-presidente do Sistema Santa Cecília de Rádio e TV Educativas com as de presidente do Santos FC, não consegue disfarçar a enorme expectativa em torno da pré-estréia de Renata. “A ansiedade aumenta a cada dia, principalmente por tratar-se de mais uma grande oportunidade de prestarmos o devido tributo a um dos maiores nomes da natação de mar aberto da América Latina”, destaca.
O filme Renata é mais que uma continuidade da vontade de mantê-la eternamente viva, presente em nossos corações e mentes. Ele não é um mero documentário. Trata-se, permita-nos a ausência de modéstia, uma obra de arte, digna da profundidade contida nos pensamentos e idéias da jovem nadadora. O filme foi criado a partir de uma coletânea de imagens – muitas delas inéditas – garimpadas nas mais variadas formas de mídia, reforça Marcelo.