Trata-se de uma espécie comum na região, com distribuição desde o Nordeste ao Sul do Brasil.
Os incidentes ocorridos em praias de Itanhaém, onde foram registrados nos últimos dias quatro casos de banhistas feridos por ferrões de pequenos bagres não se tratam de ataques. A afirmação é do biólogo Matheus Rotundo, coordenador do Acervo Zoológico da Universidade Santa Cecília (AZUSC-UNISANTA).
De acordo com o pesquisador, no geral, todos os peixes tendem a evitar contato com os seres humanos. “Os bagres são espécies pacíficas que não atacam banhistas… a maior probabilidade é que devido ao pequeno tamanho e/ou valor de mercado, o exemplar da espécie tenha sido descartado morto pelos pescadores, principalmente pela pesca do camarão sete-barbas (muito comum na região)… e assim, o peixe tenha entrado em contado com os banhistas através da movimentação das ondas”, ressalta Rotundo.
O biólogo faz um alerta às pessoas para que tomem cuidado também ao andar pelas areias da praia. “Como esse peixe possui espinhos fortes para sua proteção, mesmo mortos na areia podem causar o acidente, que geralmente é comum de ocorrer”, comenta.
Características – Rotundo teve acesso a um dos peixes que causaram o acidente e diz que a espécie é denominada cientificamente como Genidens barbus e popularmente conhecida como bagre branco. Pertence à família Ariidae, composta pelos bagres marinhos – que habitam águas costeiras, em profundidades de até 25 metros -, mas esta espécie também aparece nas regiões estuarinas (manguezais, foz de rios, etc), durante o período reprodutivo.
O peixe está categorizado como “em perigo” (âmbito nacional), na lista de espécies ameaçadas de extinção (Portarias MMA Nº 444 e 445/2014).
Os espinhos dos bagres servem para sua proteção contra predadores, no geral peixes maiores e aves marinhas. O pesquisador esclarece que várias espécies de bagres são consideradas “peçonhentas”, ou seja, podem inocular veneno através de espinhos modificados. “A potência do veneno é variável conforme a espécie, podendo causar intensa dor e necrose local por isquemia, agitação e sudorese… existem poucos casos registrados que evoluíram até a morte, mas quando ocorreram estavam ligados a infecções secundárias”.
Ameaça – Conforme Rotundo, infelizmente podem ocorrer novos acidentes como esse, que não costumam ser registrados, mas são comuns. Ele afirma que, o período reprodutivo faz com que a espécie fique mais próxima à zona costeira e assim seja facilmente capturada pelos pescadores que acabam descartando os animais mortos, os quais chegam às praias e podem provocar ferimentos. “Trata-se de um tipo de acidente mais frequente em regiões de praias próximas a rios e estuários”.
A espécie faz parte do AZUSC-UNISANTA, que possui uma boa quantidade de exemplares de toda área costeira do Estado de São Paulo. No momento, o biólogo está concluindo um artigo científico, junto com um renomado pesquisador de bagres do Brasil – Dr. Alexandre Marceniuk, associado do AZUSC. O trabalho relata a ocorrência de exemplares com distúrbios pigmentares (semelhantes ao albinismo), possivelmente devido à questão da pesca desordenada da espécie e agentes poluidores.