Como chegar ao resíduo zero e o porquê de não aceitarmos a incineração como uma alternativa para destinação dos resíduos sólidos foram algumas das discussões do Seminário Resíduos Sólidos em Foco, realizado nesta terça-feira (2/6), no auditório do Bloco E da Universidade Santa Cecília (Unisanta).
O seminário trouxe ambientalistas, biólogos, gestores públicos, especialistas e autoridades do Ibama, Cetesb, Agem, Ministério Público Estadual (Gaema), além de secretários municipais das nove cidades da região para debater as alternativas sustentáveis visando a destinação de resíduos sólidos e a capacidade de suporte do aterro sanitário. Também houve espaço para abordagem de questões como recursos hídricos, políticas públicas, soluções para o adensamento urbano e formas de pensar no progresso limpo e sustentável.
Na abertura do evento, a reitora da Unisanta, Sílvia Ângela Teixeira Penteado, parabenizou os organizadores pela inciativa de abrir uma discussão tão relevante para a sociedade. “Queremos disponibilizar a nossa Universidade, desde a infraestrutura às pesquisas de nossos alunos e professores de graduação e mestrado. A sociedade acadêmica sempre estará presente nessa discussão e, principalmente, na apresentação de soluções para essa questão dos resíduos sólidos, que devemos em curto prazo ampliar os estudos e implementar as alternativas”, disse Sílvia.
Antes de iniciar o Painel “Alternativas Sustentáveis para a Destinação de Resíduos”, algumas autoridades introduziram a importância do seminário.
Para a secretária de Meio Ambiente de Santos, Marise Céspedes Tavolaro, além das discussões que acontecem no Conselho de Desenvolvimento da Região Metropolitana da Baixada Santista (Condesb), ampliar o assunto neste seminário irá aprimorar as alternativas. “Estamos em busca de soluções práticas e ideais para este momento tão difícil de adaptação do sistema atual. A conquista do cumprimento pleno do Plano Nacional de Resíduos Sólidos vai exigir de todos nós grandes mudanças e muita dedicação”, evidenciou a secretária.
Segundo o secretário de Meio Ambiente de Guarujá, Adilson Cabral, as considerações resultantes do evento poderão fazer parte do Plano Regional de Resíduos Sólidos. “A relevância deste encontro se faz, principalmente, em dar voz a todas as partes da sociedade neste momento crítico da nossa região. Não temos mais tempo de apenas discutir, precisamos colocar em prática e definitivamente mudar o cenário atual”, explicou Cabral.
A ambientalista, bióloga e gestora pública, Ingrid Furlan Oberg, ressaltou a relação da sociedade com o consumo. “Hoje estamos vivendo na ‘Era do Lixo’. A questão ambiental já está em pauta há mais de 30 anos e até hoje não mudamos a nossa relação com o consumo, que só aumenta. Diminuir os resíduos sólidos é uma questão que prevê diversas etapas anteriores como o repensar a produção, o consumo e o uso de produtos”, afirmou a ambientalista.
Incineradores – O primeiro painel do seminário evidenciou os sérios problemas que podem gerar o uso de incineradores. A coordenadora da Aliança Global para Alternativas à Incineração – GAIA América Latina, Magdalena Donoso, explanou sobre os diversos problemas sociais e ambientais que podem ocorrer ao utilizarmos a energia gerada pela queima do lixo.
Dentre diversas questões, ela ressaltou: “o alto custo, a pouca geração de empregos, a eliminação da reciclagem — pois é necessário queimar os mesmos materiais—, a manutenção necessária de aterros para cinzas tóxicas e o fato de nenhuma comunidade querer um incinerador instalado ao lado de suas casas, tornam essa alternativa de energia não conveniente para o século em que vivemos”.
Magdalena citou exemplos de outros meios para o destino do lixo, como as cooperativas de reciclagem e compostagem, que geram emprego, e realmente podem chegar próximo ao resíduo zero. Mencionou São Francisco, nos EUA, que já reduziram 80% do lixo produzido. com a implantação exigida destas alternativas. “Não podemos entender a incineração como geração de energia e como solução para a questão do lixo na América Latina”, disse a representante da GAIA.
O advogado e ambientalista, Virgílio Alcides de Faria, entende que a incineração só se apresenta como alternativa para os empresários do setor. “Quando o Plano Nacional prevê a recuperação energética como alternativa para a redução dos resíduos não necessariamente entende-se que a incineração seja a única possibilidade. Principalmente quando analisamos o artigo 33 que exige a priorização da coleta seletiva, que é totalmente inversa e incompatível com a incineração”, relatou Faria.
Concluindo o painel, a coordenadora de Resíduos Sólidos do Instituto Pólis e Aliança Resíduo Zero, Elizabeth Grimberg, destacou a importância de unir ações para transformar a destinação dos resíduos. “As estimativas nos mostram que estamos no momento da mudança, a quantidade de resíduos sólidos municipais quase dobrará, das 1.3 bilhão de toneladas por ano de hoje para 2.2 bilhões em 2025”, explanou Elizabeth.
O moderador do painel e professor da Unisanta, Elio Lopes, ao abrir para perguntas, lembrou da importância das questões técnicas levantadas “Estamos reunidos com grandes autoridades no assunto, o que possibilita a discussão técnica das reais necessidades do cenário atual”, disse Lopes.
O coordenador de Projetos do Fórum da Cidadania de Santos e idealizador do seminário, Célio Nori, falou sobre as propostas do encontro. “Creio que em primeiro lugar vamos conseguir destacar a necessidade de uma ampla campanha educacional para sensibilizar a população quanto à necessidade de separação dos resíduos domiciliares (materiais orgânicos e recicláveis). A campanha poderia ser desenvolvida pelos meios de comunicação, escolas e demais entidades que atuam na defesa do interesse público”, disse.
Para Nori a participação dos gestores públicos é essencial para as mudanças. “ O CONDESB (que reúne os nove municípios e representantes do Governo do Estado) pode definir investimentos e procedimentos integrados para viabilizar uma política pública para o setor: coleta, unidades de separação e processamento e apoio à comercialização dos resíduos, de modo a incentivar e contribuir para a geração de trabalho e renda para os catadores que atuam de forma organizada”, finalizou o coordenador.
No período da tarde o tema foi Panorama Regional da Destinação de Resíduos Sólidos nos Municípios da Região Metropolitana da Baixada Santista, com discussões e avaliações do cenário atual da Gestão dos Resíduos nos Municípios por seus respectivos secretários municipais de Meio Ambiente. Ingrid Furlan Oberg, ambientalista, bióloga e gestora pública, conduziu os debates.