A volatidade de alguns compostos leves derramados durante o incêndio na Alemoa e as marés podem ter contribuído para dispersar os poluentes, afirmam os biólogos, enfatizando a necessidade de outros tipos de testes.
Os ensaios de toxicidade realizados pelo Laboratório de Ecotoxicologia da Universidade Santa Cecília (Unisanta) apontaram efeitos nocivos em duas das 12 (doze) amostras coletadas na área limitada pela barreira de contenção e no seu entorno. Esse resultado, porém, não significa que o estuário de Santos não sofreu com os produtos químicos introduzidos no ambiente, segundo os biólogos.
A equipe do Laboratório de Ecotoxicologia afirma que outras análises precisam ser realizadas por outros laboratórios, por exemplo, com os sedimentos, água de fundo, além de estudos de bioacumulação em tecidos de peixes. Deve ser efetuado também um monitoramento contínuo da área do acidente e de seu entorno, para se detectar possíveis efeitos crônicos.
Os pesquisadores consideram como causas prováveis da normalidade nas amostras coletadas fora da barreira de contenção a volatilidade de alguns compostos leves no produto derramado, bem como a ação de correntes (marés), que podem ter contribuído para a dispersão dos poluentes.
A mortalidade dos peixes foi um efeito agudo, possivelmente devido ao aquecimento da água e à consequente queda do teor de oxigênio nela dissolvido, que chegou a dois miligramas desse componente por litro de água em uma das amostras, a qual apresentou efeitos nocivos aos organismos, explicam os biólogos. “Torna-se importante ressaltar que este teor de oxigênio é impróprio à manutenção da vida aquática.”
Testes com ouriços
Das duas amostras consideradas tóxicas pelo Laboratório de Ecotoxicologia, uma foi coletada pela Unisanta e outra pelo Instituto Ecofaxina dentro da área de contenção flutuante dos despejos no estuário. A Unisanta coletou um total de cinco amostras, sendo duas na faixa de contenção, duas a cerca de 50 metros da barreira e uma na Ponta da Praia, perto das balsas. O Instituto Ecofaxina fez sete coletas.
A utilização do ouriço-do-mar para essas análises deve-se principalmente pela grande sensibilidade deste organismo (fase larval) a várias classes de poluentes. Após a utilização nos ensaios, os organismos são devolvidos ao mar, no mesmo local onde foram coletados.
Para as análises de toxicidade, os ouriços-do-mar foram induzidos à liberação de gametas (células reprodutivas) e, em seguida, ocorreu a fertilização in vitro. Os embriões gerados são expostos às diferentes amostras de água coletadas, e após o período de 24 horas, começaram as análises dos embriões quanto ao desenvolvimento e ocorrência de anomalias.
Integram a equipe da Unisanta o coordenador do Laboratório de Ecotoxicologia, o Eng° Dr. Aldo Ramos Santos, os professores dos Programas de Mestrado da UNISANTA em Sustentabilidade de Ecossistemas Costeiros e Marinhos e do Mestrado de Engenharia Mecânica, como os doutores Augusto Cesar, Camilo Seabra, Roberto Borges e Fábio Giordano, e os biólogos doutorandos Fabio Hermes Pusceddu e Fernando Sanzi Cortez.
O Laboratório de Ecotoxicologia Prof. Caetano Belliboni da Universidade Santa Cecília é acreditado pelo Instituto Nacional de Metrologia (Inmetro) na norma ISO 17025 para a realização de ensaios de toxicidade com organismos aquáticos.