Efeitos tóxicos a organismos marinhos foram identificados recentemente no Laboratório de Ecotoxicologia da Universidade Santa Cecília (Unisanta), que está completando 20 anos no próximo domingo (5/6), Dia Mundial do Meio Ambiente. Não foram constatados perigos ao homem, pois esses não foram os focos das pesquisas, mas estão comprovados danos a invertebrados marinhos, o que pode afetar a cadeia alimentar costeira.
Um dos estudos concluídos é a dissertação de mestrado aprovada no Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares (IPEN/USP) em fevereiro último, do biólogo Fernando Sanzi Cortez, que recomenda o estabelecimento de “concentrações seguras do bactericida Triclosan” na legislação ambiental pertinente. A substância, que chega ao estuário por meio do sistema de esgotos e in natura, inibiu a taxa de fertilização in vitro do molusco Perna perna (mexilhões) e de ouriços-do- mar (Lytechinus variegatus).
O amplo uso do Triclosan deve-se a sua grande eficácia contra bactérias Gram negativas e Gram positivas, e há relatos de outros pesquisadores sobre a presença desse fármaco em leite materno, águas residuais, rios, lagos, sedimentos e peixes. Mas havia uma carência de estudos comprovando danos a organismos marinhos, o que o mestrado de Cortez constatou.
As pesquisas e laudos fornecidos pelo Laboratório de Ecotoxicologia da Unisanta possuem reconhecimento nacional e internacional. Em fevereiro, o Laboratório obteve a renovação da certificação ISO 17.025 do Instituto Nacional de Metrologia (Inmetro). Foi um dos primeiros laboratórios de Ecotoxicologia do País, entre universidades, a obter a certificação ISO – International Organization for Standardization –
Pellets na areia e no mar.
Outra recente pesquisa efetuada no Laboratório de Ecotoxicologia da Unisanta, esta orientada pelo professor doutor Camilo Seabra, mostra resultados preliminares sobre efeitos tóxicos dos pellets (microesferas de plástico), encontradas nas águas e areias das praias de Santos. Em contato com a água do mar de boa qualidade, este material foi capaz de inibir o desenvolvimento larval de ouriço-do-mar, demonstrando toxicidade crônica. “Estudos pretéritos (passados) demonstraram a capacidade deste material acumular poluentes como hidrocarbonetos, pesticidas e PCBs (organoclorados), nocivos aos organismos marinhos”, afirma Sanzi Cortez.
Os pellets são bolinhas de 1 a 5 milímetros de diâmetro, dificilmente visíveis a olho nu, utilizadas em atividades industriais e portuárias. Este estudo está sendo realizado como trabalho de conclusão de curso (TCC) dos alunos Caio Nobre e Auro Maluf, do curso de Especialização em Oceanografia oferecido pela Unisanta.
A pesquisa será apresentada no Congresso Latino-Americano de Ciências do Mar, de 31 de outubro a 4 de novembro, em Santa Catarina. O Doutor Camilo Dias Seabra Pereira é professor do Curso de Mestrado em Ecologia e Meio Ambiente da Unisanta e Coordenador do Curso de graduação em Biologia Marinha da Universidade.
Ele tem se especializado em Biomonitoramento de áreas costeiras do litoral de São Paulo por meio de organismos marinhos, especialmente nos efeitos de poluentes em mexilhões Perna perna, do Canal de São Sebastião ao estuário de Santos. Em setembro de 2011, Seabra apresentou desdobramentos de suas pesquisas, no 27° Congresso da Sociedade Europeia de Fisiologia Comparada e Bioquímica (ESCPB), em Alessandria, Itália.
3 mil ensaios, em 20 anos
Nestas duas décadas, foram realizados no Laboratório de Ecotoxicologia da Unisanta cerca de 3 mil ensaios e pesquisas, para teses doutorais, dissertações de mestrados, laudos para empresas, projetos ambientais, de iniciação científica, cursos de extensão, Trabalhos de Conclusão de Curso e consultorias, informa o Pós-Doutor Augusto Cesar, coordenador do Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Sustentabilidade de Ecossistemas Costeiros e Marinhos da Unisanta (ECOMAR), recomendado pela Capes.
Para Augusto César, coordenador do Curso de Mestrado em Ecologia da Unisanta, que iniciou as aulas da primeira turma em março deste ano, os cursos de stricto sensu da Universidade são resultados do trabalho amplo e sólido de pesquisadores brasileiros e do Exterior, que tiveram ou têm parte de seus estudos desenvolvidos no Laboratórios de Ecotoxicologia da Unisanta. Há uma estreita ligação também com o Laboratório de Operações Unitárias e o Mestrado em Engenharia Mecânica da Universidade, iniciado neste ano.
Intercâmbios internacionais
Entre os parceiros no Exterior, estão a Rede de Universidades Europeias e Internacionais através do Programa Erasmus Mundus, em Programas de Mestrado e Doutorado em Gerenciamento Costeiro, e o Programa CYTED – América Latima, para Avaliação, Recuperação e Gestão de Sistemas Aquáticos Afetados por Atividades de Mineração.
Neste mês de junho, o Laboratório de Ecotoxicologia receberá mas um pesquisador espanhol, da Universidade de Cádiz, Victor Almago, que ali desenvolverá parte de suas pesquisas referentes ao seu doutorado, sob a orientação do dr. Augusto Cesar.
Ainda como parte de intercâmbio internacional, a Profª Ms. Alessandra Aloise de Seabra foi contemplada com uma bolsa de estudos para realizar uma tese de doutorado sobre o tema Petróleo e gás: impacto socioeconômico e legislação pertinente à exploração de óleo e gás no litoral de São Paulo. A pesquisa será feita parte em Santos e parte em Universidades Européias, dentro do programa Erasmus Mundus
Alessandra fez seu mestrado no Programa Erasmus Mundus entre os anos de 2008 e 2010, quando desenvolveu sua dissertação voltada à questão da distribuição e aplicação dos royalties de petróleo na região costeira. Ela foi orientada pelo Prof. Gilberto Passos de Freitas, docente da Unisanta.
O Erasmus Mundus é uma rede internacional de universidades empenhadas na pesquisa e ensino na área de Gerenciamento Costeiro. Somente três universidades brasileiras estão integradas ao Programa: Unisanta, a Universidade Federal do Rio Grande do Sul, em Porto Alegre e a Universidade de São Paulo.
O Laboratório de Ecotoxicologia da Unisanta, que é coordenado pelo Prof. Dr. Aldo Ramos, atende ainda aos cursos Lato Sensu em Ecotoxicologia e Monitoramento Ambiental; LS Gestão Ambiental; LS Avaliação Ambiental; LS Petróleo e Gás e LS em Oceoanografia, além dos cursos de graduação em Ciências Biológicas, Farmácia e Engenharias Químicas e de Petróleo.