Sair de barco de Fernando de Noronha (PE), navegar mais de dois dias (cerca de 600 km), cruzar a linha do Equador, este foi o trajeto percorrido pelo professor Teodoro Vaske Júnior, titular do curso de Mestrado em Ecologia e de graduação em Ciências Biológicas da Universidade Santa Cecília (Unisanta). Destino? Arquipélago de São Pedro e São Paulo, um terço do caminho para chegar à costa africana.
Ponto mais afastado do Brasil, no Oceano Atlântico norte equatorial, o Arquipélago é um conjunto de 15 ilhotas (17.500 m² de área total emersa) que se tornou reduto ecológico reservado para pesquisa. Na ilha Belmonte, a única habitada, mas que não ultrapassa 100 metros de cumprimento por 50 de largura, foi construída uma estação científica em 1998, que abriga apenas quatro pessoas, em geral pesquisadores que lá permanecem por 15 dias, para garantir que o Arquipélago pertença ao território brasileiro.
Um dos escolhidos para esta missão foi o professor Vaske Júnior, que já participou de 12 expedições de pesquisas no local, entre 2001 e 2006. O fruto deste trabalho foi publicado recentemente no livro Arquipélago de São Pedro e São Paulo: histórico e recursos naturais.
A publicação, da qual o professor da Unisanta é um dos organizadores e co-autor, faz parte da Coleção Habitat do Labomar e divulga o resultado de 209 expedições científicas em um local sem nenhuma vegetação, sombra ou gota de água potável.
O livro, ilustrado com mais de 400 fotos coloridas e 130 desenhos, traz informações sobre: a história e a caracterização do Arquipélago, a fauna (alguns endêmicos) e flora, a pesca, a ocupação humana, a dinâmica das relações interpessoais e a adaptação dos pesquisadores a esta distante porção do território nacional. Aborda também o Programa Arquipélago (PROARQUIPÉLAGO), a Estação Científica do ASPSP (ECASPSP), além de conter mapas, gráficos e tabelas.
Para o professor, esta experiência foi uma grande oportunidade de trabalhar com a pesquisa marinha no nordeste do Brasil. “Desde o convite para uma reunião em Brasília em meados dos anos 90 para organizar uma estação científica no ASPSP, passando pelas expedições, até a conclusão deste livro, foram muitos trabalhos científicos e um grande aprendizado em ecologia, com o objetivo de mostrar ao público brasileiro a importância científica e política do ASPSP para o Brasil.”
Vaske Júnior faz questão de destacar que o livro traz detalhes de onze espécies ameaçadas de extinção, além de quatro endêmicas (grupos que se desenvolveram apenas neste local), entre elas o peixe-borboleta-oblíquo, donzela-do-arquipélago, antias-de-são-pedro-são-paulo e a espécie Enneanectes smithi (sem nome popular registrado).
A obra, com 242 páginas, teve o apoio da Secretaria da Comissão Interministerial para os Recursos do Mar (SECIRM), do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), do Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT), do IBAMA e da ArteSub.com. A edição ficou a cargo do Núcleo de Audiovisual e Multimeios (Nave)/Instituto de Ciências do Mar (Labomar), da Universidade Federal do Ceará, parceria entre a UFRPE e a UFC/Labomar.
O livro não está à venda, mas pode ser encontrado nas principais bibliotecas do País, como a da Universidade Santa Cecília. Outras informações: vaske@ig.com.br
Sobre o autor – Teodoro Vaske Júnior é pós-doutor, graduado em Oceanografia pela Fundação Universidade Federal do Rio Grande (FURG), em 1986, mestre (1992) e doutor (2001) em Oceanografia Biológica, ambos os títulos obtidos na FURG, pós-doutor pela Universidade Estadual Paulista Julio de Mesquita Filho (2009). Trabalhou, desde 1993, na Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE) como professor visitante, onde realizou pesquisas com peixes oceânicos, biodiversidade e cefalópodes na Região Nordeste do Brasil e nas ilhas oceânicas, particularmente no Arquipélago de São Pedro e São Paulo (ASPSP).
Além de Teodoro Vaske Júnior, participaram da organização do livro Arquipélago de São Pedro e São Paulo – histórico e recursos naturais, os seguintes pesquisadores: Rosangela Paula Lessa, Marcelo Francisco de Nóbrega, Fernanda Maria Duarte do Amaral, Susan Roberta Mello O’ Brien, Francisco de Assis Pereira da Costa, e mais 14 autores colaboradores.