“Está cada vez maior o número de estudantes norte-americanos interessados em aprender a língua portuguesa. Há uns anos atrás eu tinha cinco ou seis alunos anualmente, em alguns cursos, hoje eu tenho 100”, disse o brasilianista Kenneth David Jackson, da Universidade de Yale (EUA), durante palestra para os alunos do Curso de Jornalismo da Universidade Santa Cecília (UNISANTA), na última segunda-feira (28/5).
Para Jackson, que é um dos maiores estudiosos sobre a Cultura do nosso País, este cenário está mudando devido ao grande número de brasileiros que trabalham e moram nos Estados Unidos. Ele explica que o aumento também está atrelado a importância que o país tem nas Américas e a preferência dos jovens em conhecer o Brasil durante as férias de verão. “Hoje os jovens só querem saber de conhecer dois países: Brasil ou Cuba”, brincou.
“Quando comecei meus estudos, há algumas décadas atrás, ninguém se interessava pelo Brasil. E ainda hoje não há muita informação sobre a cultura, a língua e a literatura brasileira na imprensa americana”, disse o estudioso. O professor conta que as informações divulgadas pela mídia norte-americana ainda não evoluiu muito. “Infelizmente, quando o Brasil aparece nos noticiários é para mostrar o futebol, carnaval ou as favelas”.
O estudioso contou que a seu fascínio pelo País começou depois de apresentações da orquestra que participava ter passado por aqui. “Viajamos durante um mês com a orquestra pela América Latina. Voltei para os Estados Unidos fascinado e fiz um curso intensivo de Língua Portuguesa e não parei mais de estudar a cultura e a literatura brasileira”, disse.
E foi através dos textos de Oswald de Andrade, no qual desenvolveu sua tese de doutorado, que conheceu as obras de Patrícia Galvão, a Pagu. O brasilianista tem dois livros publicados sobre ela, com traduções e análises, Parque industrial, escrito em 1932, e de Serafim Ponte Grande, de Oswaldo de Andrade. Pelo seu interesse pela Pagu, Jackson conheceu o Centro UNISANTA de Estudos Pagu, em agosto de 2006, e elogiou o trabalho da escritora Lúcia Maria Teixeira Furlani, diretora-presidente da UNISANTA e pesquisadora da vida de Patrícia Galvão.
Em relação a escritores como Paulo Coelho, que ganhou recentemente seis páginas na revista Times, Jackson acredita que é uma forma de literatura, tem seus leitores, vende milhões de exemplares, mas “não faz parte de nenhuma das grandes frentes literárias”, disse.
“Estudo apenas os grandes clássicos da literatura, como Machado de Assis, Patrícia Galvão, Oswald de Andrade, Lídia Fagundes Teles e mais recentemente Milton Hatoun, com o romance Dois Irmãos”, acrescentou o brasilianista, que acredita que para se formar uma época literária é preciso ter uma vasta produção como qualidade.
Para David Jackson, o País deveria estudar uma maneira de facilitar a leitura de romances, que não são conhecidos nem pelos próprios brasileiros, como é o caso de obras nordestinas.
E em julho deste ano, ele trará ao Brasil pela terceira vez uma turma de alunos para estudar nossa cultura, língua e literatura. “Iremos estudar os contos de grandes escritores como Jorge Amado e Pagu”, disse o brasilianista. “As obras de Clarice Linspector são as preferidas entre os estudantes”. Jackson ministrará palestras também na cidade de São Paulo, Parati e Rio de Janeiro.
UNISANTA e livros sobre Pagu – Quatro volumes sobre o trabalho de Pagu como jornalista serão lançados no Brasil em Português pelo professor K. David Jackson em parceria com a Editora UNISANTA. Os títulos das obras são: A denunciada denuncia – Pagu e a Política (1931-54); Da necessidade da literatura, coletânea de crônicas feitas por Patrícia Galvão sobre outros autores e Palcos e Atores, com pesquisa sobre textos de teatro. O quarto versará sobre grandes autores mundiais – cerca de 90, selecionados entre artigos de Pagu, publicados no Diário de S. Paulo.
Currículo – Ph.D. em Português pela Universidade de Wisconsin, David Jackson atua no Departamento de Espanhol e Português da Universidade de Yale. Foi professor em diversas instituições americanas e brasileiras. Tem livros publicados em inglês, português e espanhol, entre eles A Prosa Vanguardista na Literatura Brasileira: Oswald de Andrade, A Vanguarda Literária no Brasil: Bibliografia e Antologia Crítica, Transformations of Literary Language in Latin American Literature: From Machado de Assis to the Vanguards, e muitos outros.
Escreveu artigos, trabalhos e projetos sobre a literatura brasileira e temas em geral para jornais e livros. Em 2005, recebeu o título de membro honorário do Instituto de Cultura Européia e Atlântica de Ericeira, Portugal, e em 2001, foi palestrante no Congresso Brasil 2001.