Nada de amplidão e exageros barrocos. O vestido de Pagu, na avenida, é luxuoso, mas ao mesmo tempo clean, moderno, elegante, na altura dos joelhos, com bordados e franjas esvoaçantes. Um misto de espiritualidade e sensualidade, como foi Pagu, a musa libertária representada, na Passarela do Samba, pela escritora e educadora Lúcia Maria Teixeira Furlani, no carro abre-alas da X-9.
O figurino reflete algo de “melindrosa’ e mulher intelectual, ousada, à frente de seu tempo, como foi Patrícia Galvão, a Pagu, homenageada pelo samba-enredo Eh, Pagu, Eh, paixão de fazer doer. O design foi inspirado em fotos da época, revistas, nos livros e documentário de Lúcia, Pagu, Livre na Imaginação, no Espaço e no Tempo.
O estilo alta costura é glamouroso, com bordados discretos, mas refinados, enfeitando o tecido azul (veludo cristal) nas cores azul, rosa, vinho e verde. A mistura de tons simboliza também o “caldeirão de influências” que viria eclodir no Movimento Modernista de 1922. Uma echarpe completa o vestuário, presa ao tecido e nas mãos.
Nos cabelos, Lúcia levou um feixe de plumas finas e compridas (egrete). O vestido mostra as preferências da sociedade paulistana nos anos 20, inspiradas na moda européia, especialmente a francesa.
“Pagu, introduzida muito jovem na alta sociedade pelo casal Tarsila e Oswald de Andrade, vestia-se muito bem nessas reuniões em que a intelectualidade de vanguarda e a boêmia se misturavam”, afirma Lúcia Maria Teixeira Furlani. A educadora colaborou nas pesquisas do figurinista Ademir Fontana, ouvindo ainda especialistas e professores do Curso de Gestão dos Negócios da Moda e de Educação Artística da Unisanta.
Mobilização – A exemplo de escolas de samba do Rio de Janeiro, que buscam talentos e inspiração nas universidades e junto à vanguarda cultural, a X-9 se aproximou dos intelectuais e também dos funcionários da Unisanta, de todos os níveis. A Ala dos Jornalistas da Universidade reuniu professores, pessoal de serviços gerais, secretárias, alunos e familiares.
A Unisanta editou os livros que embasaram o enredo “Eh, Pagu, eh, paixão de fazer doer”, desenvolvido pelo carnavalesco Renato di Renzo, professor da Faculdade de Artes e Comunicação da Unisanta. Os figurinos criados por Ademir Fontana para a Ala dos Jornalistas tiveram confecção, arte e acabamento das fantasias a cargo dos professores Fátima Alves Barroso e Camila Gonçalves, do Curso de Gestão de Negócios da Moda e Gilson de Melo Barros, de Artes Plásticas. O presidente da X-9, Leandro Chadad, estuda Direito na Universidade e foi aluno do Colégio Santa Cecília.
Fantasias – No Atelier de Moda, os alunos do curso aprenderam a fazer corte industrial de roupas. Antes, foi preciso enfestar os tecidos, ou seja, colocá-los em várias camadas para cortá-los de uma só vez.
Nas cores rosa, lilás, verde, azul e roxo, as fantasias foram confeccionadas com a participação de alunos do Curso. O trabalho foi feito fora do expediente das aulas, muitas vezes de madrugada. Os figurinos são leves e cada um traz pintados os nomes que Pagu usou: Patsi, Brequinha, King Shelter, Zazá, Luda, Irmã Paula, G.Lea, Leonnie, Ariel, Gim, Mara Lobo, Peste, Cobra…
Para Leandro Chaddad, acadêmico de Direito da Unisanta “o espírito guerreiro da Pagu é um exemplo para a X-9, que enfrentou também dificuldades nos últimos anos e está buscando, com muita garra, seu retorno ao Carnaval”.