Morreu neste domingo, às 7h30, o apresentador e radialista Armando Gomes. Ele tinha 76 anos e fez história no rádio e na TV da Baixada Santista, em especial no esporte. Ele integrou a Santa Cecília TV desde o início da emissora e comandou o tradicional programa Esporte por Esporte, líder de audiência nos finais de noite. O jornalista estava internado há cerca de dois meses no Hospital Vila Nova Star, em SP. Ele deixa a esposa Laura e os filhos Victor e Vinícius. Ainda não havia informações sobre velório e sepultamento.
Armando Gomes Vieira Filho é parte importante da história do rádio e da TV de Santos. A mãe, Iracema Gomes (falecida em 2007), já era do meio artístico no rádio. E o filho seguiu pelo mesmo caminho, a partir de 1962. Ele sempre se orgulhou em dizer que trabalhou em todas as emissoras de rádio da Cidade. Inicialmente era o noticiário policial, mas Armando logo viu que aquele não era o caminho, mas sim o esporte.
Armando, então, virou repórter e, posteriormente, narrador. Transmitiu o jogo do milésimo gol de Pelé em 1969, na vitória sobre o Vasco, no Maracanã, por um convite do chefe Ernani Franco, locutor e fervoroso torcedor do Santos.
Tempos antes, em 7 de março de 1965, ele passou maus bocados para transmitir Portuguesa Santista e Ponte Preta, que disputavam o acesso à elite do Campeonato Paulista em Campinas. A Briosa venceu por 1 a 0, mas Armando não conseguiu entrar no Estádio Moisés Lucarelli para transmitir a partida e arranjou uma solução inusitada para realizar a cobertura do jogo.
“Estava lá com o falecido companheiro José Liberato e a Ponte não deixou que a gente entrasse. Vínhamos fazendo muitas críticas durante a semana. E o Urubatão, ex-jogador do Santos, era técnico da Ponte Preta e morava em Santos. Deu a dica toda. Então transmiti o jogo em uma sacada de uma casa em frente ao Moisés Lucarelli”, lembrou, em entrevista de 2015.
No entanto, foi defendendo o Peixe em todas as suas tribunas que Armando Gomes marcou sua trajetória na imprensa. O apresentador ganhou, inclusive, o nome da sala de imprensa da Vila Belmiro e integrou o Conselho Deliberativo do clube. Certa vez, até deixou uma reunião do órgão sobre a negociação de Neymar porque não tinha sido aprovada a presença da imprensa no local e, por ser parte dela, foi solidário.
Mesmo quando trabalhou em São Paulo, primeiro na rádio e depois na TV Gazeta, entre 1978 e 1983, Armando Gomes nunca esqueceu de suas raízes, ainda que cobrisse outros clube como repórter. Outro grande torcedor do Santos integrante da equipe da emissora era Peirão de Castro, que morreu em 1989 e foi responsável por sua ida para São Paulo.
“Veja como eu era bobão. Pegava minha Brasília e voltava para Santos correndo porque queria ver o teipe para saber se eu estava bem. Às vezes chegava em tempo, em outras não. Ficava satisfeitíssimo quando me reconheciam. Hoje me escondo”, lembrou, em entrevista concedida em 2015.
A paixão por Santos e pelo Santos Futebol Clube foi o que o trouxe de volta para a região, na rádio Tribuna AM. O pioneirismo maior aconteceu em 1991: ele era o apresentador do Litoral nos Esportes, da TV Litoral, primeira emissora da Baixada Santista. O programa foi embrião do que seria um dos grandes sucessos de sua carreira – e que está no ar de segunda a sexta e aos domingos até hoje, pela Santa Cecília TV, desde 1997, que sucedeu a TV Litoral, que terminou no ano anterior: o Esporte por Esporte.
Nos primórdios da TV Litoral, aconteciam fatos curiosos, como quando Armando mostrava a uma das câmeras uma mensagem de um telespectador, certamente um fax. Foi a deixa para o improvável entrar em campo. “Dizia: ‘Inclusive, vocês podem ver que o telespectador existe, é da Ponta da Praia’. E falei: ‘Vem cá!’ Quando eu disse isso, o câmera tirou o fone e falou: ‘Pois não?’ E eu respondi: ‘Não é tu. É a câmera’. Isso é verdade verdadeira”, detalha o apresentador, referindo-se à aproximação da lente do equipamento.
As opiniões contundentes sempre foram uma marca de Armando Gomes, justamente contra quem atacava o Santos e a Cidade. Mensagens dos telespectadores que não o agradavam eram lidas assim como as que elogiavam. A diferença era o tratamento: no tempo em que os faxes eram populares, os papeis eram rasgados na frente das câmeras para delírio de quem estava em casa e nas arquibancadas, no período em que o Esporte por Esporte teve plateia, já na Santa Cecília TV.
“Não sou polêmico de propósito. Sou polêmico porque eu falo o que eu sinto. As pessoas querem que eu fale aquilo que elas querem ouvir. Eu não faço assim. Falo que eu quero falar e não o que as pessoas querem ouvir. O Vicente Cascione (advogado) até fala para mim: ‘Armando, pensa pra falar’. Mas eu não consigo. Eu não penso para falar. Eu falo pra pensar. E às vezes não dá tempo de botar pra dentro o que você falou”, explicou, em entrevista de 2015.
A audiência, então, explodia, a ponto de Jô Soares citar o programa. Em uma entrevista, o apresentador comentou sobre os grandes índices de seu programa de entrevistas, exceto na Baixada Santista, onde o Esporte por Esporte dominava as atenções. Ver a reação de Armando Gomes depois das vitórias e derrotas do Santso no programa – tal como acontecia em outros tempos com Ernani Franco no rádio – virou um esporte tão esperado quanto acompanhar o futebol dos finais de semana.
Apesar do espírito polêmico no ar, Armando Gomes sempre foi uma figura querida pelos amigos, bem humorado e que desejava o bem de todos. A capacidade de revelar talentos também se revelou em toda a trajetória do programa. Veteranos da crônica esportiva como Vitor Moran, Pedro de Paulo Neto, Jaime Mathias e Pinheiro Neto dividiam o espaço com os então jovens talentos como Fabiano Farah, André Mendes, Ricardo Martins e Odinei Ribeiro – este último atualmente narrador do Grupo Globo.
Pela Santa Cecília TV, Armando Gomes protagonizou grandes coberturas esportivas, como a final da Copa Conmebol de 1998, quando o Santos foi campeão diante do Rosário Central, na Argentina. Ele também foi a voz de grandes momentos da Portuguesa Santista na emissora, como o acesso para a Série A-3 em 2016.
“Obrigado senhoras, obrigado senhores, Deus existe”. Era assim que Armando Gomes se despedia a cada final de Esporte por Esporte. O público, porém, que agradece.