Elio Lopes dos Santos, coordenador e professor dos cursos de Pós-Graduação de Engenharia de Segurança do Trabalho e Gestão Ambiental da Universidade Santa Cecília, teve fotos de sua autoria consideradas o mais antigo registro fotográfico brasileiro de raia manta oceânica viva. As fotos, tiradas em 1974 a bordo do barco de pesquisas Emília, na Baía de Sepetiba, no Rio Janeiro, foram descobertas pelos pesquisadores do Projeto Mobulas do Brasil, membro da rede mundial “Manta Trust”, com sede no Reino Unido, que promove ações públicas ambientais em benefício das raias.
Na época dos registros, Lopes era químico da Companhia Ambiental do Estado de São Paulo (Cetesb) e era membro da tripulação do Emília, barco de pesquisa do Instituto Oceanográfico da USP a serviço da Companhia de Docas do Rio de Janeiro, onde trabalhava na pesquisa para a construção do Porto de Sepetiba. E foi justamente nas águas fluminenses da Baía de Sepetiba que em dezembro de 1974 um forte tranco no casco da embarcação fez o jovem pesquisador (na época com 25 anos) levantar de seu beliche e ir ao convés saber do que se tratava.
Ao se encontrar com o capitão do Emília, Mestre Terêncio, foi avisado que o barco havia se chocado com um cardume de Jamantas, outro nome usado para a raia manta oceânica. Elio correu e pegou sua câmera, subiu no ponto mais alto do Emília e fez o registro vivo mais antigo da espécie no Brasil.
A Jamanta (Mobula birostris) é a maior espécie de raia do mundo, podendo alcançar mais de oito metros de envergadura e pesar mais de duas toneladas. Ela se alimenta de plânctons e pequenos peixes por filtração, já que não tem verdadeiros dentes (também não possui ferrão ou espinho) e tem um comportamento dócil com os seres humanos, sendo inclusive uma grande atração para mergulhadores. Além de figurar entre os maiores peixes do mundo, o cérebro da Jamanta é o maior entre todas as espécies de peixes, mesmo se considerada a proporção ao tamanho de seu corpo.
São animais que vivem mais de 40 anos, atingindo mais de oito metros de envergadura e duas toneladas de peso. Sua distribuição pelos oceanos abrange um extenso raio em águas tropicais e temperadas por todo o mundo, e isso se deve à capacidade de deslocamento da Jamanta por grandes distâncias, com mergulhos em profundidades superiores a mil metros em águas a temperaturas próximas a 3°C. Apesar disso, a Jamanta é considerada vulnerável pela Lista Vermelha de Espécies Ameaçadas da União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN), com uma drástica diminuição de sua população nos últimos vinte anos devido à sua lenta capacidade reprodutiva, pesca excessiva e captura acidental por redes.
Voltando às fotos do prof. Elio Lopes, chama a atenção o contexto específico em que aqueles exemplares de raia manta oceânica se encontravam. Primeiramente estavam em grupo, o que é raro dessa espécie solitária e só acontece por três motivos: alimentação, limpeza ou acasalamento. Foi também um feliz acaso para Lopes encontrar jamantas de tamanho acima da média como aquelas, além de poder fotografá-las em um raro momento que estão na superfície, se alimentando possivelmente de zooplâncton. Além disso, a presença das jamantas em dezembro nas águas fluminenses não seguiu padrões normais, pois a temporada da espécie no Sudeste brasileiro vai de maio a agosto.
Além dessa passagem inesquecível com o cardume de jamantas, toda essa fase da vida, há 46 anos, foi muito marcante para o docente da Unisanta. Elio Lopes conta outra passagem curiosa dessa época. Durante os dois meses de seus serviços para a construção do Porto de Sepetiba, ele ficou hospedado na cidade de Itacuruçá, no litoral sul do Rio de Janeiro, onde coincidentemente também estavam em estadia o grupo de humor “Os Trapalhões”, que filmavam na região o longa-metragem: “O Trapalhão na Ilha do Tesouro”.
Lopes conta que logo fez amizade com os humoristas e tomava café todo dia com eles no hotel. O consultor ambiental ainda relata um pedido que o grupo fez para ele: “Teve um belo dia que eles me pediram para fazer uma cena ao redor do barco Emília simulando uma perseguição de um navio que deveria colidir com o Emília, me pedindo nesse momento para eu mergulhar na água do mar. Logicamente que neguei, pois se tratava de um barco do Estado e eu estava de serviço. Falei com o Renato Aragão (Didi) que seria despedido. Ele então fez a cena só ao redor do barco, simulando um rapto e uma perseguição do bolso por um outro barco. Tudo filmado ao redor do Emília. Fui testemunha dessa cena.”.