A Engenheira Civil Liliane Lopes Costa Alves Pinto, formada na Universidade Santa Cecília (Unisanta), participa de pesquisa, desde 2006, sobre um tipo de asfalto que absorve a água da chuva. O projeto é desenvolvido pela Universidade de São Paulo (USP), onde a engenheira é aluna de doutorado, no Departamento de Hidráulica da POLI-USP. Sua tese é baseada nesse experimento.

 “Foram construídos dois modelos físicos na POLI e os estou monitorando desde o início desse ano. Devo entregar minha tese agora em dezembro e apresentar os resultados hidráulicos obtidos, já que meu enfoque é totalmente voltado à mitigação de impactos na drenagem urbana”, explica Liliane.

 No dia 8/11, o Programa da Rede Globo: Bom Dia Brasil, apresentou, no quadro: “Você não sabia mas existe…”, uma matéria sobre o tema do doutorado de Liliane.

Leia abaixo a matéria retirada do G1  e entenda como funciona o projeto.

“Acontece em tantas cidades e com tanta gente: basta o tempo fechar para as pessoas ficarem preocupadas, com medo. Medo da chuva e de suas consequências. Os pontos de alagamento são conhecidos, e os perigos são muitos.

A coluna de Ciência e Tecnologia do Bom Dia traz,  nesta segunda-feira (8),  uma descoberta que pode diminuir o impacto de uma enchente. A coluna “Você não sabia, mas já existe”  acompanhou durante meses a fase de testes de um produto que foi desenvolvido pela Universidade de São Paulo: um asfalto que absorve a água.

Do ponto de vista de um motorista, não tem nada melhor do que uma rua bem asfaltada, onde se roda macio, como em um tapete. Na cidade, é que percebemos o problema. O tal “tapete” não deixa a água penetrar no solo. Começa formando poças que acabam nos engolindo em alagamentos.

Mas, então, o que fazer em uma cidade grande? O trânsito cada vez mais pesado nos leva a regiões cada vez mais asfaltadas. E o que era margem de rio e absorvia água das chuvas se transforma em pista de rolamento.

Por isso, fomos conhecer a pesquisa de um professor,  José Rodolpho Martins, do Departamento de Hidráulica da Universidade de São Paulo. Ele estuda a água e os mecanismos de uma enchente. Depois de muita pesquisa, viu que a solução poderia estar exatamente no vilão. O asfalto seria um aliado para evitar o alagamento. 

“A nossa ideia era poder absorver a água da chuva no revestimento da pavimentação que se usa nas ruas, nos loteamentos, condomínios e estacionamentos. Absorver rapidamente essa água e permitir que ela pudesse ser armazenada na parte inferior do pavimento”, afirma o professor.

Seja em uma estrada movimentada ou rua tranqüila, basicamente, a pavimentação é feita da mesma forma. Começando por cima, vem a pista: uma camada de cerca de cinco centímetros, composta de pequenas pedras, unidas pelo asfalto. Precisa ser bastante resistente, para que o trânsito passe, sem soltar qualquer pedaço.

Logo abaixo, está a base, uma camada mais espessa de brita – rochas maiores. Essa base possui muitos espaços vazios, que poderiam funcionar como um reservatório. Mas aí vem o problema: como a superfície poderia deixar a água passar, sem se tornar um piso frágil, quebradiço, frente a um trânsito pesado.

Entrou em cena o Laboratório de Tecnologia de Pavimentação da própria USP, ligado à engenharia de transporte. No local, unindo pedras, cal e asfalto, que serve de liga na mistura, foram produzidos diferentes pisos.

Todas as misturas asfálticas passaram por testes. Assim nasceu a Camada Porosa de Asfalto (CPA). O asfalto absorvente é feito com pedras maiores, para que haja vazios entre elas. O projeto prevê até 25% de espaço para a água infiltrar.

Lado a lado com uma amostra de asfalto comum, a diferença é visível. O convencional é mais compacto, praticamente não há espaço entre as pedras. Rosângela Motta explica a diferença entre os dois.

A coluna “Você não sabia, mas já existe” é antes de tudo desconfiada. Por isso, nós trouxemos até a USP um caminhão pipa. Com o auxílio de uma mangueira, nós vamos ver se realmente o piso é ou não absorvente, é ou não capaz de receber todo esse volume d’água. É como se fosse uma chuva de fim de tarde.

Rapidamente, as pequenas poças de água que havia desaparecem. É interessante que fica só a impressão de que realmente está molhada a pista. Ela fica úmida. “O asfalto está úmido, mas a água não empoçou e já sumiu”, declara o pesquisador.

O volume d’água que nós jogamos foi de aproximadamente três mil litros d’água em cerca de 10 minutos. “Ela vai levar cerca de duas horas ou até três horas para começar a sair aqui. E depois, ela vai para o nosso sistema de drenagem. Mas só para sair da base do pavimento vai levar duas horas ou mais”, diz o pesquisador.

Para o professor, aos poucos, em cada obra de recapeamento que fosse feita nas grandes cidades, poderia ir se trocando o asfalto velho pelo impermeável. Assim, em alguns anos, teríamos uma ferramenta a mais para combater o inimigo que tem hora certa para chegar.

A verdade é que a cada ponto de alagamento em uma cidade tem que encontrar a sua solução para o problema da enchente. Uma informação importante que o professor nos passou: esse asfalto novo pode receber mais água do que um terreno água. Nós temos que lembrar que o terreno natural encharca quando muito molhado, e o piso tem muito espaço entre as pedras para armazenar água. Por isso, consegue absorver muita água.

Mas esse asfalto especial é mais caro, cerca de 25% a mais. Dizem que ele pode baratear, à medida que as pessoas vão comprando. É claro que é uma dificuldade para uma cidade trocar todo o asfalto, mas, se pensarmos nas ruas internas de um condomínio, em um estacionamento de shopping center, normalmente áreas enormes, asfaltadas, isso poderia ajudar a reduzir os efeitos de uma enchente”.