Pomadas supostamente contendo gordura do peixe-boi amazônico, vendidas para reduzir dores de reumatismo, câimbras e outros males, não possuem nenhuma substância da espécie. A afirmação é da bióloga Lilian Hage Ribeiro de Magalhães, da Universidade Santa Cecília (UNISANTA). A Instituição firmou convênio com o Instituto Brasileiro de Meio Ambiente (IBAMA) para estudo e conservação daquele mamífero, ameaçado de extinção..

Foram feitas coletas de pomadas vendidas por camelôs em Belém do Pará, Rio de Janeiro e São Paulo. Em análises realizadas nos laboratórios da UNISANTA, sob orientação do bioquímico Luís Carlos Leite, foi comprovado que o suposto medicamento é inócuo, pois contém apenas vaselina.

Com esses dados, o IBAMA fornecerá subsídios para que o órgão competente possa autuar a empresa que fabrica o produto e esclacer a opinião pública. A bióloga e assessora técnica do Centro Mamíferos Aquáticos do IBAMA, Fábia Luna, coordenadora do Projeto Peixe-Boi Amazônico, visitou a United States Geological Survey Sirenia Project na Flórida, Estados Unidos, onde houve grande interesse dos pesquisadores sobre o estudo.
O chefe do Centro Mamíferos Aquáticos (CBMA) do IBAMA é o oceanógrafo professor mestre Regis Pinto de Lima. A bióloga Lilian, formada pela UNISANTA, se integrou à equipe quando fez um estágio em Itamaracá, Pernambuco, após sua formatura, em dezembro.

Mortandade

O Projeto Peixe-Boi existe desde a década 80, para conservar o animal que está em vias de extinção devido à caça desenfreada para abastecer principalmente restaurantes do Norte, onde a carne faz parte do cardápio, apesar da caça ser proibida por lei desde 1967. O animal é morto com arpões ou asfixiado. Neste último caso, os caçadores esperam que o mamífero vá à superfície para respirar e colocam tornos no interior das narinas, o que deixa o animal indefeso. Outro método de matar é a pauladas ou com redes especiais.
Os pesquisadores temem que o peixe-boi da Amazônia tenha o mesmo destino que o peixe-boi marinho. Este é um pouco maior do que o da Amazônia, o qual chega a atingir 2,5 metros de comprimento e a pesar cerca de 300 quilos.

Em trabalho publicado, os pesquisadores do Projeto Peixe-Boi informam que esses mamíferos vêm sendo “impiedosamente abatidos pelos rincões da floresta”, há mais de 300 anos. Em 1658, o padre Antônio Vieira registrava a saída de pelo menos 20 navios do Amapá, repletos de carne e de gordura de peixe-boi em direção aos portos da Holanda. A caça prosseguiu nos anos seguintes e, desde 1985, a espécie foi considerada sob risco de extinção.
O couro do Peixe-Boi foi utilizado para a fabricação de correias de máquinas, cola e mangueiras. Atualmente, grandes embarcações comerciais equipadas com geleiras disfarçam a carne ilegal junto ao pescado. Ocasionalmente, a população ribeirinha da Amazônia se utiliza do peixe-boi para alimentação e para artefatos, aproveitando o couro, os ossos e a carne. Mas expedições dos pesquisadores comprovaram que os ribeirinhos não necessitam do peixe-boi em sua dieta diária, pois o rio possui outros peixes. Além disso, a população tem o hábito de cultivar hortas, criar galinhas, porcos e caçar outros tipos de animais na mata.

Telefone da bióloga Lílian: 3202-7100 – ramal 7316