Sair de casa é um processo pelo qual todos passam, mais cedo ou mais tarde, e são as ambições e oportunidades de cada um que determinam em qual período da vida isso irá acontecer. Para os nadadores Isabela Amblard, Lucianne Maia e Yuri Andrew a oportunidade e o desejo de crescer no esporte foram fatores determinantes para fazer com que eles deixassem suas casas e famílias para ir para Santos representar a UNISANTA. Isabela é de Recife, Pernambuco, e está em Santos há quatro anos. Formada em psicologia em 2006, ela viu na oportunidade de se mudar, a chance de recuperar a motivação perdida pela falta de tempo para conciliar estudos e treinos: “Em 2003, um ano antes de eu me mudar pra cá, meus horários de aula mudaram e muitas vezes eu tinha que treinar sozinha, além de ter que jantar no carro pra chegar na faculdade a tempo e isso foi me desmotivando”.
A atleta considera Santos muito parecida com Recife e por isso sua adaptação não foi tão difícil. “Santos é como uma Recife pequena, o que é melhor porque tem menos violência, menos trânsito, mais tranqüilidade e ainda posso ir a praia!”. Ela diz que embora ficar longe de casa seja difícil, o amadurecimento e as conquistas – tanto no esporte quanto na vida pessoal – são recompensas que fazem o processo valer a pena.
Vinda de uma cidade nada semelhante a Santos, Lucianne Maia saiu de Manaus há dois anos em busca de novos desafios e de um local que oferecesse melhores condições para ela se desenvolver. “Eu treinava na Vila Olímpica, que era bom, mas não tinha ninguém pra treinar comigo, sendo que muitas vezes cheguei a competir com os meninos porque o nível das competições locais era muito fraco”, diz.
A estrutura oferecida pela Vila Olímpica, custeada pelo governo, disponibilizava a piscina, sala de musculação, psicólogo e massagista, mas não havia ajuda de custo e Lucianne tinha que bancar suas viagens. “Eu tinha direito a duas passagens por semestre financiadas pelo governo, mas pagava alimentação e hospedagem, além das outras viagens”, conta.
Lucianne, assim como Isabela, diz que deixar a família foi o mais difícil, mas ver que está crescendo na natação (esse ano ela pegou sua primeira final A nos 200m nado livre no Troféu José Finkel) e construindo bases para sua carreira profissional – ela está no segundo ano da Faculdade de Educação Física da UNISANTA – compensam qualquer sacrifício.
Em 2007, foi a vez de Yuri Costa deixar o estado do Pará para ampliar seus limites e conquistas. Natural de Belém, ele treinava na Adesefe e contava apenas com a piscina e uma sala de musculação para treinar e procurou a UNISANTA buscando mais qualidade de treino e uma equipe mais forte e estruturada.
Menos de um ano após as mudanças, o nadador ainda não se habituou totalmente à nova vida: “Os treinos são muito diferentes, bem mais intensos”, conta. De acordo com Yuri as mudanças não param por aí: “As pessoas e a cultura são bem diferentes, além disso, o padrão de vida de Belém é mais baixo”. Mesmo assim, ele diz que a mudança valeu a pena pois melhorou os tempos e pôde dar início ao curso de fisioterapia, também na UNISANTA.

HÁBITOS ALIMENTARES – O único que não se queixa de sentir falta das comidas típicas de sua região é Yuri. Para Lucianne, o estranhamento só não foi maior porque sua mãe manda freqüentemente farinha, cupuaçu e tucumã para ela matar as saudades. “Ainda assim, sinto muita falta de comer peixe de rio e da tapioca de Manaus porque a daqui é muito ruim”, diz a nadadora.
A lista de Isabela é um pouco maior: “Aqui não como carne de sol, macaxera, inhame, sarapatel e os pratos que têm o mesmo nome, como a tapioca e o cuscuz, têm receitas e gostos diferentes dos de Recife”. Diferente de Lucianne, ela só como as comidas de que gosta de duas a três vezes ao ano, quando volta pra casa.
AQUI OU LÁ? – Embora classifiquem a mudança como um fator importante e positivo em suas vidas, os três atletas dizem que mesmo se tivessem a família junto, escolheriam suas cidades para morar. Segundo eles, se não fosse pelo esporte, voltariam para casa porque sentem que pertencem às suas respectivas cidades, além de sentirem muita falta dos amigos. “Não que eu não goste de Santos, mas Recife é o meu lugar”, desabafa Isabela.
Lucianne diz que é em Manaus que se sente em casa, embora lhe agrade a idéia de trazer os pais para morar e envelhecer em Santos: “A sensação é diferente quando estou lá, me sinto verdadeiramente em casa. Em contrapartida, os idosos em Manaus não saem de casa, não pegam ônibus, diferente daqui que vejo pessoas da terceira idade em todos os lugares! Queria esse futuro para os meus pais”, diz.
Antes de sair de casa, Yuri e Isabela tinham passado no máximo um mês fora de casa para treinar nos Estados Unidos – ela em 2002 e ele em 2006, enquanto Lucianne nunca havia passado mais de uma semana longe do pai e da irmã, já que, mesmo em viagens de competição a mãe a acompanhava. Isabela também dividia essa realidade, dizendo que a mãe também viajava com ela para todas as competições até os 16 anos.
RESULTADOS – No currículo dos três, experiências das mais variadas: Yuri participou do Campeonato Mundial de Júnior, realizado ano passado no Brasil e do Multinations, além de possuir medalhas nos campeonatos brasileiros e estaduais de categoria; Isabela disputou o Campeonato Mundial de Indianápolis em 2004, o Campeonato Sul-Americano de categoria em Belém, em 2002, e possui medalhas de Troféu Brasil e Finkel pelos revezamentos; Lucianne disputou o meeting Brasil x Venezuela, seleções paulistas e vai participar de sua primeira Copa do Mundo esse ano em Belo Horizonte. Também possui medalhas dos campeonatos brasileiros e estaduais de categoria.