Ela chorou de emoção, emocionou os jornalistas, mas está decidida: de agora em diante, só encara atividades sem ter que disputar provas na água. Vai se dedicar a uma clínica de natação em São Paulo, em março, organizar a primeira travessia no mar com seu nome e a sua vida pessoal.
Poliana Okimoto se despediu do esporte profissional após 32 anos de carreira, decidida a se dedicar a sua vida pessoal, a clínicas e a projetos sociais, estimulando crianças a se dedicar a maratonas. “Minha missão está muito está bem cumprida. Não tenho mais o apoio que tinha de meus patrocinadores em São Paulo, onde moro. Não treino em Santos e não consigo ter a estrutura que a Unisanta oferece aqui. Perdi minha equipe multidisciplinar, comecei a treinar mal, a ter maus resultados”, justificou.
“Se eu ficasse em quarto lugar em uma competição, o que é um bom resultado, seria muito ruim para mim. Como sou perfeccionista, teria que me dedicar em dobro. Prefiro não fazer se for para fazer mal feito”, disse ainda a maratonista, lembrando algumas de suas conquistas, como a primeira medalha olímpica feminina em desportos aquáticos (Rio de Janeiro 2016) e a primeira nadadora brasileira a ganhar a medalha em Campeonatos Mundiais (Nápoles 2006).
Além desses motivos profissionais, Poliana quer ser mãe. Está casada há dez anos com seu técnico e marido, Ricardo Cintra, e seu relógio biológico de mulher está pedindo a maternidade. ”Se fosse o contrário, eu, a técnica e ele, o nadador, não teríamos problemas”, brincou.
Poliana se emocionou muito antes do começo da coletiva, quando assistiu a um vídeo em sua homenagem feito pela Santa Cecília TV. Antes de responder à primeira pergunta da imprensa, ela pediu licença para agradecer e manifestar sua emoção. Com voz entrecortada, parando algumas vezes de falar, Poliana agradeceu o apoio da Unisanta e a todos os que confiaram nela.
Lembrou os treinos, as viagens de madrugada, os desafios, como vencer seu medo do mar, a prova em que nadou com o tímpano perfurado e foi vice-campeã mundial, a maratona em que competiu desidratada, em 2014, quando foi campeã. Suas vitórias não foram questão de sorte, mas de um trabalho muito árduo. “Foram momentos difíceis, mas muito prazerosos”, afirmou, respondendo a um jornalista.
“Agradeço a todos os técnicos que me ajudaram desde o começo, a todos os adversários que me ensinaram a me tornar mais forte. Desde os 2 anos não saio da água, vai ser difícil me tirar da água”.
A maratonista olímpica faz questão de dizer que está muito feliz com sua decisão e com tudo que viveu no esporte e aprendeu com ele, como a resiliência, a dedicação e a tirar proveito das coisas negativas.
Lamentou a situação pela qual o esporte passa no Brasil, dificuldades que começaram antes das Olimpíadas. Mas há fatos positivos, afirmou. “O Brasil sempre foi o país só do futebol, agora a natação tomou vulto.
Ricardo Cintra, seu técnico, disse que Poliana está saindo no momento certo, embora tenha fisicamente condições de buscar mais uma medalha nas olimpíadas em Tóquio. “Ela realizou seus sonhos e os meus também. Se ela quiser voltar um dia a competir, terá meu apoio”, disse.
Homenagem
O Pró-Reitor da Unisanta, Marcelo Teixeira, tem duas expectativas. “A primeira é que eu ainda acredito que eu consiga demover a minha campeã e o meu treinador dessa decisão de paralisar suas atividades esportivas. Comecei uma conversa hoje e acho que vou estender um pouco mais para que eu consiga, na minha condição de dirigente e amigo, sensibilizar a consciência e o coração do nosso casal para que eles mantenham o projeto olímpico de Tóquio 2020”.
A segunda opção, caso o projeto Tóquio 2020 tenha de fato o seu encerramento, será o início de um projeto acadêmico, esportivo e social, visando aproveitar todo o conhecimento de Poliana e de Cintra, O objetivo é descobrir novos talentos, para dar oportunidades a tantos meninos e meninas que nem sempre conseguem, através da sua condição socioeconômica, ter a oportunidade de fazer o que o Santa Cecília, Poliana e Cintra têm feito.
Lembrou que os dois se conheceram na piscina da Unisanta e essa relação passou para a vida pessoal. “Esses resultados não podem parar, precisam permanecer vivos, e nada melhor do que Ricardo e Poliana, com toda a nossa infraestrutura acadêmica e esportiva, possam trazer mais um grande título para as suas carreiras.
“Nesse instante, gostaria também de informar, algo que para nós é muito importante, que também perpetuará o nome da nossa grande campeã. Nós já temos a piscina olímpica batizada com o nome de Wilson Silva Castro, nosso querido Bagdá, e hoje, anunciamos que a piscina de apoio, a nossa piscina semiolímpica aquecida. levará o nome de Poliana Okimoto.
A reitora da Unisanta, Sílvia Teixeira Penteado, disse que Poliana nasceu vencedora, paralisou um pouco a carreira para refletir, voltou vitoriosa e vai dar continuidade a esse seu projeto de vida na educação. Para Sílvia e a presidente da Universidade, Lucia Teixeira, a história de Poliana é de resiliência, que é exatamente alguma coisa que nos leva cada vez mais a lutar. A maratonista mostrou muitos caminhos e exemplos a seguir”.
Conquistas
Poliana tem uma carreira repleta de títulos pioneiros, nacionais e internacionais. Nos Jogos Pan-Americanos de 2007, ganhou a primeira medalha do Brasil na competição. Em 2009, Poliana conquistou nove das 11 provas disputadas nas etapas da Copa do Mundo da FINA. Sendo recorde em número de vitórias no mesmo ano e a primeira brasileira a vencer a competição. No mesmo Mundial, em Barcelona (2013), foi a primeira e única brasileira a ser campeã Mundial na prova olímpica dos 10km e também foi prata nos 5km e bronze nos 5km por equipe. E finalmente, em 2009 e 2013, Poliana foi eleita pela FINA como a Melhor Nadadora de Águas Abertas do Mundo.
E ainda. neste ano, o nome de Poliana Okimoto passou a integrar o Hall da Fama das Maratonas Aquáticas, um reconhecimento mundial da InternationalMarathonSwimming Hall ofFame (IMSHOF). Poliana é a primeira nadadora brasileira a ser incluída no grupo seleto de notáveis atletas de várias partes do mundo.
Fotos: Ivan Storti