“O surf mudou minha vida e com o esporte consigo quebrar, todos os dias, paradigmas da sociedade, mostrando que pessoas portadoras de necessidades especiais são capazes de muita coisa. Esta prancha irá contribuir para melhorar minhas habilidades e, principalmente, para incentivar outros deficientes visuais a praticarem o esporte”, disse o aluno da Escola Radical de Santos, Valdemir Pereira Corrêa, deficiente visual há 13 anos e praticante do esporte há 10.

A prancha adaptada, à primeira vista, parece como as outras, mas apresenta detalhes importantes para quem não possui visão. De 2,76 metros de comprimento, ela é um longboard, feita com o mesmo material emborrachado usado em bodyboards, mas tem as extremidades macias e a quilha emborrachada, para evitar contusões, além de dois guizos nas pontas, com som parecido com um chocalho, para orientação sonora. Da cor amarela, pois muitos deficientes visuais apresentam sensibilidade ao reflexo da luz, a prancha possui também pontos com relevos de EVA em seu centro e nas bordas.

Segundo o professor da Universidade Santa Cecília (UNISANTA) e o idealizador do projeto, Cisco Araña, este projeto é inédito no mundo. “A prancha é fruto de 10 anos de observação e estudo das aulas para Valdemir. Quando ele entrou, foi um desafio e a criatividade foi o segredo para ensiná-lo a surfar”, disse o professor. “Acredito que nesta primeira prancha, acertamos cerca de 99%, mas ainda temos alguns detalhes para aprimorar”, disse Araña.

“O próximo passo é conseguir uma bolsa de estudo para Valdemir. Queremos que ele se forme em Educação Física e depois que seja professor da escola”, acrescentou o idealizador do projeto.

A escola, localizada no Posto 2, é definida como um mosaico pelo professor Irapagi Caetano, por unir desde crianças, portadores de necessidades especiais, atletas, até a terceira idade. “Trabalhamos também com portadores de necessidades educacionais especiais, que são crianças e adolescentes com problemas na escola e que através do surfe melhoram o comportamento e o desempenho escolar”, disse o professor, que começou na escola como aluno aos 14 anos, no mesmo ano da fundação, em 1992. Depois, em 1995, foi monitor da escola e em 1996, entrou na Faculdade de Educação Física e Esportes (FEFESP) da UNISANTA. Hoje ele é professor da UNISANTA e da Escola Radical.

Durante a cerimônia para entregar a prancha, os acadêmicos do 3º e 4º ano do curso, o primeiro a inserir o esporte na estrutura curricular, realizaram jogos cooperativos com cerca de 50 alunos, de 6 a 80 anos, da Escola Radical. Segundo o aluno do 4° ano, Francisco Bortoletto, a escola permite uma integração mágica entre Homem e natureza, além de contribuir com a integração social. “E também aprendemos muito como alunos”, completou.

Para divertir a criançada, estava presente o palhaço Saracura e autoridades da Cidade também participaram da festividade. O evento foi realizado na última sexta-feira, dia 15 de junho, no Posto 2, na orla da praia do José Menino, em Santos.

Escola Radical – Pioneira no Brasil, a Escola Radical atende cerca de 1.600 alunos ao ano. Cerca de 30.000, entre crianças, adultos e portadores de necessidades especiais já aprenderam a surfar. Só no último verão, mais de 1.200 alunos passaram pela escola.

Os acadêmicos do 3º e 4º ano da FEFESP fazem o monitoramento das aulas de Surf e um trabalho diferenciado com os alunos da 3ª idade. Desta forma, os estudantes colocam em prática conceitos recebidos em sala de aula, nas disciplinas de Surf e Esporte para Pessoas Adaptadas.

As aulas de Surf e Body Boarding acontecem às quartas, quintas e sextas-feiras, das 8 às 10 horas e das 14 às 16 horas. Crianças a partir de quatro anos podem participar. Não há limite máximo de idade. Informações pelo telefone 3251-9838.