Brasil e Portugal só têm a ganhar com o Sistema Integrado de Gerenciamento Ecológico das Zonas Costeiras. Esta é a visão do Prof. Dr. Ramiro Neves, coordenador-geral da EcoManage, aberta na noite desta segunda-feira (dia 14), na Universidade Santa Cecília, e que reúne especialistas de seis países.

Para o coordenador do evento, o estudo do estuário de Santos, um dos mais importantes ecossistemas do Brasil, trará benefícios não só para a região, mas para o País e também para Portugal, que obterá ferramentas mais abrangentes para discutir a questão. “O benefício socioeconômico do projeto é incontestável, porque vai analisar as águas residuais lançadas no estuário, mostrar a melhor maneira de executar a dragagem, entre outras recomendações, que vão facilitar a vida dos gerenciadores e também das autoridades ambientais”, avalia.

De acordo com Ramiro Neves, que também integra o Instituto Superior Técnico do Lisboa, Portugal só avançou mais nesta área porque a legislação ambiental européia é muito rígida, fazendo com que o Estado seja obrigado a reduzir a poluição e até punido com multas, caso não cumpra suas obrigações. Nesta primeira reunião na UNISANTA, parceiros como Portugal, Brasil, Argentina e Chile estão tendo oportunidade não só de se conhecer, mas de estudar em profundidade três ecossistemas diferentes: o estuário de Santos, com seus manguezais e o maior porto da América Latina; Baía Blanca, na Argentina, uma área bastante degradada, e os fiordes de Aisén, região costeira dos Andes, no Chile.

O trabalho, que começa agora, tem prazo de execução pelos próximos três anos, com o apoio da União Européia, responsável pela liberação de 1,4 milhão de euros. O financiamento, observa Neves, só foi possível porque o projeto está na vanguarda do que se faz na Europa. O rigor dos avaliadores é grande, porque só um em cada cinco projetos consegue aprovação. “O Brasil, como Portugal, também conta com o maior número de cidades grandes perto da costa litorânea, daí a importância de um estudo desta envergadura”, afirma, lembrando que os portugueses sempre usaram o mar para seus deslocamentos, ao contrário da Espanha, por exemplo, que teve seu desenvolvimento mais voltado para o interior.

A idéia de reunir os pesquisadores em Santos surgiu há dois anos, por ocasião de um encontro denominado Estuário Vivo, idealizado por uma organização não-governamental. De imediato, contou com a aprovação de duas instituições, que há dez anos vêm realizando pesquisas neste sentido: a UNISANTA e a Universidade de São Paulo, por intermédio do Instituto Oceanográfico.

Pioneirismo – A participação da Universidade Santa Cecília (UNISANTA) no EcoManage, em pesquisas e por meio de seus laboratórios pioneiros, voltados para a Engenharia e o Meio Ambiente, foi destacada na noite de segunda-feira (14) pela Reitora e pela diretora-presidente da Universidade, Sílvia Teixeira Penteado e Lúcia Maria Teixeira Furlani. Sílvia lembrou os 10 anos de pesquisas do Modelo Hidrodinâmico Matemático, desenvolvido em parceria com o Instituto Superior Técnico de Lisboa (IST) e a Hidromod,

“São também 12 anos do Núcleo de Pesquisas Ambientais, quase 15 anos do Laboratório de Ecotoxicologia, cinco do Núcleo de Pesquisas e Estudos Socioeconômicos (NESE), 44 anos de Complexo Educacional e três décadas de ensino superior”. A proposta da UNISANTA, acrescentou a reitora, é de “crescermos juntos nesta década, marcada pela paz e políticas ambientais conjuntas”. Lúcia Teixeira Furlani se referiu aos participantes do EcoManage como “pessoas preocupadas com o futuro de nosso planeta”, unidos para o desenvolvimento humano, para que todos possam absorver e lucrar com o auto-desenvolvimento sustentado.

O professor Fábio Giordano, doutor em Ecologia, falou sobre a fauna, a flora, a ocupação pelo homem, nos tempos atuais e no período dos sambaquis, a temperatura, índices pluviométricos, os problemas ambientais e demais características do estuário de Santos.

Victor Marín, da Universidade do Chile, dissertou sobre as diferenças em relação ao Fiord do Chile, onde as profundidades chegam entre 300 a 400 metros e a temperatura mais alta é semelhante à mais baixa em Santos (cerca de 14 metros no cais santista, e a média de 15 graus de temperatura no inverno em Santos). O principal conflito, naquela região, será conciliar os interesses da pesca do salmão e do ecoturismo, disse.

Programa de terça-feira (15)- O EcoManage continua nesta terça-feira (15) com palestras pela manhã e à tarde, sobre os objetivos do projeto, conhecimento existente e programação para o primeiro ano de atividades. Das 9 às 9h30, falará o prof. Ramiro Neves, do Instituto Superior Técnico de Portugal, sobre revisão dos objetivos e atividades do Projeto. Das 9h30 às 10 horas, José Chambel Leitão, da Hidromod, abordará a Gerência do projeto, relatórios e entregas.

Proposta para a homepage do projeto será o tema de Marcos Mateus, do IST. Das 10h50 às 11h10, Gilberto Berzin, da UNISANTA, destacará a Geomorfologia e hidrodinâmica do estuário de Santos. Em seguida, Victor Marín fará uma explanação sobre o Fiord Aisén. Ramiro Neves, do IST, falará sobre o MOHID (Modelo Hidrodinâmico) das 11h50 às 12h10. Das 12h10 às 12h30, José Chambel Leitão discutirá as exigências do modelo para cada local.

Na parte da tarde, a partir das 14 horas, seguem-se as palestras Ecologia e qualidade da água do estuário de Santos, por Eduinetty Ceci de Souza, do Instituto Oceanográfico da USP; a qualidade da água no Fiord Aisén, por representante da Universidade do Chile; Modelo ERSEM, por Job Baretta, da Noctiluca (Holanda), Modelo de Qualidade da Água (MOHID), por Marcos Mateus, de Portugal; A questão socioeconômica em Santos, a cargo de Júlio Simões, coordenador geral do NESE e diretor dos Cursos de Administração e de Ciências Contábeis da UNISANTA; a Questão Socioeconômica do Fiord Aisén, por Manuel Contreras, e Discussão de exigências para modelagem de qualidade de água e das questões socioeconômicas, por Pedro Pina, Portugal.

Presentes à abertura – Estiveram ainda presentes durante a abertura do EcoManage: Débora Blanco Bastos Dias, representando o prefeito João Paulo Tavares Papa; o Capitão dos Portos do Estado de São Paulo, Capitão-de-Mar-e-Guerra Juarez Alves Júnior; deputados estaduais Marcelo Bueno e Maria Lúcia Prandi; vereador Fábio Nunes, de Santos; Cláudio da Rocha Brito, presidente do Núcleo Brasileiro de Pesquisas Ambientais; Zuleika Lisboa Peres, assistente executiva da diretoria de Engenharia, Tecnologia e Qualidade Ambiental da Cetesb; Ingrid Maria Oberg Furlan, gerente regional do Ibama; dra. Célia Regina de Gouveia Souza, do Instituto Geológico de São Paulo; Eng. José Fusaro, Coordenador de Proteção de Recursos Naturais e Licenciamento, da Secretaria Estadual do Meio Ambiente; Engª Alexandra Sofia Grotta, superintendente de Meio Ambiente, Qualidade e Normalização da Codesp; Cláudia Moreira Mucinhato, da Secretaria Especial de Aqüicultura e Pescado do Estado; Martinho Leonardo, da Secretaria do Governo de Santos; José Alonso Júnior, Coordenador de Planejamento Turístico de Praia Grande.