Na abertura do semestre letivo, o ministro do TSJ e do TSE, professor do Mestrado de Direito da Saúde, Antonio Herman de Vasconcellos Benjamin, emocionou os professores, com sua análise sobre os problemas do Brasil. Foi uma aula de Direito em linguagem acessível e um voto de confiança no futuro.

Apesar de todos os problemas que o Brasil enfrenta, como a banalidade da corrupção e a insensibilidade de muitos sobre a situação dos vulneráveis, há uma esperança para o País: “A Constituição de 1988 “ganha finalmente vitalidade e não é uma figura abstrata e retórica.  A população está disposta a cobrar por esses direitos”.

A afirmação é do prof. dr. Antonio Herman de Vasconcellos e Benjamin, ministro  do Tribunal Superior de Justiça e do Tribunal Superior Eleitoral, que saudou os professores pelo início do semestre letivo, na segunda-feira à noite (31/7), no auditório do Bloco E.  O ministro e professor do Mestrado de Direito da Saúde da Universidade expôs de maneira didática os males do Brasil.

“O Estado de Direito funciona, apesar de todas as dificuldades”, acrescentou o ministro Benjamin. “Não estamos vendo derramamento de sangue nas ruas. As desavenças são projetadas na esfera política. Estou otimista quanto a nossa capacidade de enfrentar os problemas. Vivemos apenas o início da implantação do Direito democrático no País, gestado em 1988, com a Constituição. Não escondemos embaixo do tapete os males da corrupção”.

A insensibilidade de parte da população à tragédia alheia e à situação dos vulneráveis, principalmente dos políticos, é um dos problemas que prejudica o País, segundo o ministro Benjamin “O artigo 3º. da nossa  Constituição Federal de 1988 está baseado no princípio da superação dessa vulnerabilidade. Atender à necessidade dos vulneráveis não deve vir “por caridade, mas por solidariedade”, disse o ministro.

Muitos vivem em sua zona de conforto e se preocupam em satisfazer “suas necessidades cosméticas”, de um carro novo, conforto, um novo amor, e ficam alheios aos problemas do povo, acrescentou.

A banalidade do mal – Outra questão que o ministro define como nociva, porque representa “uma anticultura”, é a “banalidade dos ataques aos cofres públicos. Poucos têm vergonha de serem acusados de improbidade administrativa e corrupção e ignoram processos e condenações”.

“A banalidade do mal  não pode continuar. Em outros países, as pessoas se afastam para a apuração dos fatos”, afirmou. “Aqui a primeira providência é aparecer mais, não há recato. Esse quadro, segundo o ministro, é incompatível com o Estado democrático do Direito”.

Uma das razões  para esses problemas é o sistema falho de controle da punição no âmbito político. “Muitos continuam a ser candidatos. Precisamos melhorar o quadro legislativo. Sem educação não vamos a lugar nenhum. A educação não pode ser privilégio de poucos”.

O ministro condenou também a ostentação, como altamente perniciosa, principalmente por parte do servidor público.  “Mesmo que ele tenha o lastro (financeiro), a ostentação é incompatível com o servidor público Outro problema do que ele chama de anticultura é a indisciplina. A disciplina é fundamental para o sucesso de um país. É vital para o aluno e professor, pois garante um foco e o aprofundamento do aprendizado.

Outro problema é a anticultura do desperdício de alimentos e recursos sustentáveis.

O ministro também comentou sobre seu hábito de lazer nos fins de semana, o de visitar bibliotecas virtuais do mundo. Em uma dessas visitas, releu obras de Tobias Barreto, filósofo, jornalista, autor do livro “Estudos  de Direito”, publicado no século 19. O autor aprendeu alemão sozinho e publicou artigos na Alemanha. Seu livro é inspirador, disse.

O dr. Benjamin foi saudado pela direção da Unisanta. A dra. Lúcia Teixeira, presidente, o dr. Marcelo Teixeira, pró-reitor Universitário, e a reitora, dra. Sílvia Teixeira Penteado, informaram que as dificuldades pelas quais o País atravessa não impedirão os investimentos e os projetos de pesquisa. Mas é necessária a colaboração de todos. Há desafios a superar, como melhorar os índices de produtividade, compreender as necessidades dos alunos e procurar atendê-las.

Currículo  – O dr. e prof. Benjamin fez mestrado no College of Law da University of Illinois (EUA), deu aulas em universidades estrangeiras e fala espanhol, francês, inglês e alemão.

Unanimidade nacional em matéria de ética, tenacidade e conhecimento jurídico, o ministro ficou mais conhecido como relator do que é considerado o maior processo da história do Tribunal, o que julgou a chapa presidencial nas eleições de 2014, composta por Dilma Rousseff e seu vice, Michel Temer, hoje presidente.

O voto histórico do ministro era pela cassação da chapa por abuso do poder econômico e político. Mesmo perdendo na votação, Herman de Vasconcellos e Benjamin sobressaiu-se pela firmeza e clareza ao expor suas ideias. Segundo advogados, Benjamin costuma ouvir pessoalmente todas as testemunhas da ação, inclusive aquelas fora de Brasília, onde vive desde 2006, enquanto muitos ministros delegam a tomada de depoimento a juízes instrutores.

Em 1982, o ministro Benjamin passou em concurso para o Ministério Público de São Paulo, onde ficou durante 24 anos, até ser nomeado, em 2006, para o Superior Tribunal de Justiça (STJ). Entre 1996 e 2000, exerceu o cargo de coordenador ambiental do MP.

Em sua passagem pelo MP, foi procurador de Justiça, especializou-se em questões ambientais e de direito do consumidor. Dali, foi a Brasília, por indicação do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, para o STJ. Em outubro de 2015, um ano após a eleição presidencial, Benjamin chegou ao TSE. Tomou posse como corregedor-geral da Justiça Eleitoral em 30 de agosto de 2016, e como ministro efetivo do TSE, em 27/10/2015. Seu mandato vai até o fim de setembro deste ano. A partir de outubro, voltará a exercer sua função no STJ.

Nasceu em Catolé do Rocha, pequena cidade no interior da Paraíba, em 1957. Deixou a cidade muito cedo, para fazer o ginásio em João Pessoa. Mudou-se para o Rio de Janeiro e formou-se em Direito em 1980, na UFRJ.