Acervo Zoológico tem financiamento aprovado para pesquisa inédita com raias-elétricas brasileiras

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A pesquisa será financiada pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e pelo Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia da Biodiversidade e Uso Sustentável de Peixes Neotropicais (INCT-Peixes).

A equipe do Acervo Zoológico da Universidade Santa Cecília (Azusc), coordenada pelo Prof. Dr. Matheus Rotundo, também vinculado aos programas de pós-graduação (mestrado e doutorado) da área ambiental (Auditoria Ambiental – PPG-AUDB, Ecologia – PPG-Ecomar e Ciências & Tecnologia Ambiental – PPG-CTA) e ao curso de Ciências Biológicas (Biologia Marinha) da Unisanta, juntamente com a analista ambiental Méd. Vet. Bruna Batista, mestranda do PPG- Ecomar, e o Me. Thiago Dal Negro, doutorando do PPG-CTA, tiveram a aprovação do projeto intitulado: “Taxonomia integrativa e genômica da especiação das raias-elétricas brasileiras (Torpediniformes: Narcinidae: Narcine)” pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e pelo Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia da Biodiversidade e Uso Sustentável de Peixes Neotropicais (INCT-Peixes).

Além da equipe da Unisanta, o estudo contará com a colaboração do Prof. Dr. Claudio de Oliveira e do pós-doutorando Dr. Bruno Ferrette, ambos da Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (Unesp) de Botucatu, do Prof. Dr. Juan Martín Díaz Astarloa da Universidad Nacional de Mar del Plata (Argentina) e do Prof. Dr. Axel Janke do Senckenberg Biodiversity and Climate Research Centre (Alemanha).

O estudo tem como objetivos avaliar as possíveis espécies não descritas de raias-elétricas do gênero Narcine que ocorrem na costa brasileira, assim como analisar suas características populacionais. Segundo o coordenador da pesquisa, Prof. Dr. Matheus Rotundo, o estudo poderá responder a questões importantes sobre a biodiversidade e conservação destas raias, atualmente classificadas em relação ao risco de extinção como “vulneráveis” pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) e como “quase ameaçadas” pela União Internacional para a Conservação da Natureza e dos Recursos Naturais (IUCN): “Ainda existem dúvidas sobre quantas e quais espécies ocorrem na costa brasileira, assim, para responder a estas questões, também teremos que analisar as espécies de outras regiões, como a costa argentina, o Mar do Caribe e o Golfo do México. Desta forma, poderemos contribuir de forma efetiva para a conservação destas espécies”.

Segundo Rotundo, a pesquisa possui uma abordagem multidisciplinar com técnicas inovadoras, as quais poderão responder às principais questões existentes sobre este fascinante grupo de espécies: “O estudo utilizará técnicas já consagradas, assim como novas abordagens, integrando diferentes áreas do conhecimento, como a taxonomia morfológica e a genômica, gerando maior compreensão sobre a história evolutiva destas espécies e sua atual condição no ambiente marinho”. Rotundo ainda destaca a importância dos financiamentos para a realização do estudo: “Sem os financiamentos obtidos, jamais conseguiríamos realizar este estudo que envolve diferentes técnicas, principalmente a parte genética, assim como analisar exemplares de outras regiões distantes”.

As raias-elétricas, também popularmente conhecidas como “treme-treme” são alvo de diferentes estudos realizados pelo Prof. Rotundo desde 2009: “Faz muitos anos que estou me dedicando a produzir conhecimento sobre estas raias. Através de inúmeras parcerias com pesquisadores de diferentes instituições, avaliamos diferenças morfológicas entre machos e fêmeas, reprodução, idade e crescimento, anomalias congênitas, alimentação, paternidade múltipla, relações evolutivas, contaminação por metais pesados e microplásticos. A maior parte dos estudos já está disponível, enquanto outros estão em fase de publicação ou desenvolvimento”.

As raias do gênero Narcine apresentam adaptações evolutivas para emitir descargas elétricas como forma de defesa contra possíveis predadores. Esta característica ocasiona acidentes com seres humanos, como destaca Rotundo: “Por possuir a capacidade de liberar descargas elétricas, quando são capturadas, acabam gerando acidentes com os pescadores, porém não fatais. A maior parte dos pescadores tem conhecimento desta característica, então se utilizam de diferentes estratégias para não receber a descarga”.

Embora existam registros de comércio de raias-elétricas para aquariofilia, no geral os exemplares capturados são descartados pelos pescadores. Porém a pesca não representa a única fonte de impacto sobre a população destas espécies vivíparas, como evidenciado pelo Prof. Rotundo: “Embora muitas vezes coloquem a culpa exclusivamente nos pescadores, a pesca não representa a única fonte de impacto para grande parte das espécies marinhas, que também estão suscetíveis à poluição marinha, perda de habitat e qualidade ambiental, mudanças climáticas, etc., o que impacta ainda mais na característica reprodutiva de produzir poucos filhotes por gestação”.

Todos os exemplares coletados para a realização dos estudos são provenientes de um projeto participativo (ciência cidadã) desenvolvido desde 2000, o qual integra pesquisadores e pescadores esportivos/ amadores e profissionais (artesanais e industriais), o “Projeto Pró-pesca: pescando o conhecimento” como destaca o coordenador Prof. Rotundo: “O financiamento da pesquisa é muito importante, porém, sem a colaboração de uma ampla rede de pescadores de toda a costa brasileira, seria impossível a realização do estudo. Além dos exemplares, os pescadores contribuem com seu conhecimento cotidiano sobre as espécies que capturam em suas atividades, o que também possui valor inestimável”.

Além dos objetivos direcionados para a obtenção do conhecimento bioecológico sobre as raias-elétricas brasileiras, a equipe do estudo também almeja a divulgação científica para diferentes públicos, como destaca a analista ambiental Bruna Batista: “Através de diferentes ferramentas metodológicas, o conhecimento adquirido será transmitido para o publico geral, aproximando a ciência desenvolvida na academia da sociedade interessada”.

Entre as metodologias previstas para alcançar este objetivo está a confecção de material didático para a divulgação via redes sociais, como ressaltado pelo doutorando Thiago Dal Negro: “A utilização de materiais educativos para divulgar a importância da ciência, assim como seu desenvolvimento, deve estar em consonância com a linguagem e o tipo de comunicação utilizado pela sociedade, sem isso não é possível alcançar a efetividade que almejamos neste objetivo do estudo”.

O Prof. Rotundo destaca que, mesmo com a execução deste estudo, ainda serão necessários outros para avaliar outros aspectos inexplorados: “Talvez pareça que já há muito conhecimento sobre estas espécies, mas na realidade ainda existem muitas perguntas a serem respondidas. Acredito que, após a conclusão deste estudo, várias outras questões irão surgir. Então, continuaremos com as parcerias com pesquisadores de diferentes áreas da ciência, assim como com os pescadores, para avançarmos no conhecimento e consequentemente na conservação destas espécies”.