51% das solicitações de refúgios na Europa se referem a crianças refugiadas e muitas chegam desacompanhadas ou separadas de seus pais e familiares, segundo a autora, que coordena o Observatório dos Direitos do Migrante da Unisanta.

Patrícia Gorisch, coordenadora do Observatório dos Direitos do Migrante e professora da Universidade Santa Cecília, teve dois artigos premiados em Congresso de Direito de Saúde na Argentina. Esses textos serão publicados na revista da Universidade ISalud, desse país.

O objetivo principal de um dos trabalhos foi analisar a problemática das crianças refugiadas que não têm a presença constante de seus pais. Foram analisadas pela autora as consequências dessa separação para a saúde mental das crianças, assim como a ajuda humanitária da Cruz Vermelha Brasileira no setor de Restabelecimento de Laços Familiares, que busca as famílias desses menores.

O trabalho usa dados de instituições como o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados, para mostrar que as crianças refugiadas já são a maioria entre quem solicita refúgio, e que 51% das solicitações de refúgios na Europa são de crianças não acompanhadas ou separadas de seus pais e família.

Patrícia Gorisch informa que, na cidade de São Paulo, há ao menos 50 crianças na mesma situação desde 2015, quando houve no mundo o maior deslocamento de pessoas desde a Segunda Guerra Mundial. Quem realiza o pedido oficial de refúgio são o Ministério Público e o Conselho Tutelar. Segundo o Gabinete de Estatísticas da União Europeia, cerca de 90 mil crianças solicitaram refúgio sem estarem com seus pais e familiares.

Muitas crianças desacompanhadas foram separadas de suas famílias durante a jornada da migração. “Geralmente elas vêm com a idade entre 14 e 17 anos e muitas vezes ´procedem de países economicamente subdesenvolvidos, com educação limitada e onde há conflitos armados e outras formas de violência. São registrados casos de crianças do Afeganistão, Síria, Eritreia, Somália, Gâmbia e Marrocos”, contextualiza a pesquisa.

Em outro ponto do texto é citado que, entre 2008 e 2013, cerca de 11.000 crianças vieram para a Europa e que esse número quase duplicou em 2014, quando cerca de 23 mil crianças chegaram a esse continente. Em 2015 o número quadruplicou: foram 88.300 requerentes de asilo procurando proteção internacional na Europa, chegando a pé, de avião ou barco ou mesmo escondidos em caminhões e trens.

Em relação ao Brasil, crianças desacompanhadas “chegam de barco e no aeroporto de Guarulhos, na cidade de São Paulo”. “A maioria das crianças não acompanhadas entram via Venezuela, onde as pessoas estão sofrendo graves violações dos direitos humanos e perseguição por razões políticas. São cerca de 180 crianças por dia, entre zero e 14, totalizando 15% dos requerentes de asilo ou refúgio, segundo a Polícia Federal”.

O estudo mostra que, na separação, as crianças são vítimas de violência física e mental, abuso, tratamentos negligentes, exploração e, em alguns casos, abuso sexual, e que o restabelecimento dos vínculos familiares é essencial para a recuperação da criança.