Adelto Gonçalves (*)
Colaborador

A professora Lúcia Maria Teixeira Furlani é, hoje, a maior especialista na obra e na vida de Patrícia Galvão (1910-1962), a Pagu, musa do Movimento Antropofágico, que foi casada com Oswald de Andrade (1890-1954) e Geraldo Ferraz (1905-1979). Depois de lançar em 1999 Pagu — Patrícia Galvão: livre na imaginação, no espaço e no tempo (São Paulo, Editora Unisanta), que já está em quinta edição, publicou em 2004 Croquis de Pagu e outros momentos felizes que foram devorados reunidos (São Paulo, Editora Cortez/Editora da Unisanta) em que organizou desenhos produzidos pela artista entre 1929 e 1930.

Além disso, desde 18 de maio, por iniciativa da autora, está no ar o site www.pagu.com.br, que reúne artigos, poemas, dados biográficos, trechos de livros e muitas fotografias de Pagu. Também foi lançado nesse dia, na Universidade Santa Cecília (Unisanta), em Santos, o Centro de Estudos Pagu, que tem por objetivo resgatar a memória de Patrícia Galvão, além de preservar e difundir a cultura brasileira. Organizado por Lúcia Teixeira com a colaboração de Rudá de Andrade, filho de Pagu com Oswald de Andrade, e da jornalista Leda Rita Cintra Ferraz, Croquis de Pagu tem prefácio do jornalista e crítico de livros e cinema Geraldo Galvão Ferraz, filho da homenageada com Geraldo Ferraz. Para a organizadora, Patrícia Galvão, sem fazer carreira artística, foi ‘‘uma personalidade rara, rebelde e inovadora na vida, na arte e na cultura, em todos estes domínios: jornalismo, poesia, romance, desenho, crítica de artes, política militante, dissidência política’’.

O livro reúne 22 desenhos do Caderno de Croquis de Pagu, a maioria dos quais possui legendas do próprio punho da artista. Traz também o Álbum de Pagu, produção pertencente ao mesmo período do Caderno, quando ela emergiu no Modernismo, mais precisamente na Antropofagia, sob a influência de Oswald e da pintora Tarsila do Amaral. O movimento da Antropofagia, alegoricamente, baseava-se no exemplo dos índios caetés que devoraram o padre português Pero Fernandes Sardinha, primeiro bispo do Brasil, no litoral de Alagoas em 1556, depois de um naufrágio, para argumentar que o intelectual brasileiro deveria, primeiro, digerir as idéias européias para, depois, produzir suas próprias criações. Seu veículo de expressão foi a Revista da Antropofagia, de 1929.

Os desenhos do Caderno de Croquis de Pagu, um tanto ingênuos, ficaram guardados por anos com o filho de Patrícia Galvão, Rudá de Andrade que, em 2001, dirigiu com Marcelo Tassara um documentário baseado no livro Pagu — livre na imaginação, no espaço e no tempo, de Lúcia Teixeira, e, por isso, com o mesmo título. Já os desenhos do Álbum de Pagu haviam sido publicados por Augusto de Campos em Pagu: vida-obra (São Paulo, Brasiliense, 1982). Patrícia Rehder Galvão, nascida em São João da Boa Vista-SP, foi jornalista, escritora, animadora cultural e militante política. Como jornalista, trabalhou no Diário da Noite, A Fanfulla, Diário de S. Paulo, Correio da Manhã, A Tribuna, de Santos, e Agência France Presse, em São Paulo. Publicou os romances Parque Industrial (edição da autora, 1933), sob o pseudônimo Mara Lobo, considerado o primeiro romance proletário brasileiro, e A Famosa Revista (Americ-Edit, 1945), em colaboração com Geraldo Ferraz. Parque Industrial foi publicado nos Estados Unidos em tradução de Kenneth David Jackson em 1994 pela Editora da University of Nebraska. Seus contos policiais, escritos sob o pseudônimo King Shelter e publicados originalmente na revista Detective, dirigida pelo dramaturgo Nelson Rodrigues (1912-1980), foram reunidos em Safra Macabra (Livraria José Olympio Editora, 1998). Como animadora cultural, traduziu grandes autores até então inéditos no Brasil como James Joyce, Eugène Ionesco, Arrabal e Octavio Paz. Teve um trabalho marcante como incentivadora do teatro amador, especialmente em Santos.

Finalmente, como ativista política e membro do Partido Comunista Brasileiro, combateu a ditadura de Getúlio Vargas, o que lhe valeu 23 prisões. Doutora e mestre em Psicologia da Educação pela Pontifícia Universidade Católica (PUC), de São Paulo, Lúcia Maria Teixeira Furlani é diretora-presidente do Instituto Superior de Educação Santa Cecília, que mantém a Universidade Santa Cecília. Publicou também A claridade da noite — os alunos do ensino superior particular noturno (Cortez, 2001), Autoridade do professor: meta, mito ou nada disso? (Cortez, 2004) e Fruto proibido — um olhar sobre a mulher (Pioneira/Unisanta, 1992).

(*) Adelto Gonçalves é doutor em Literatura Portuguesa pela Universidade de São Paulo.
E-mail: adelto@unisanta.br