*Lúcia Maria Teixeira Furlani
Sem alguns destes serviços, poderia haver um caos no atendimento à população carente
Um dos aspectos da responsabilidade social das instituições universitárias é o de contribuir para a eliminação das disparidades sociais e regionais existentes no País, por meio da formação de profissionais capazes, críticos e sensíveis às demandas da sociedade. As universidades devem ainda responder às mudanças provocadas pelos avanços da ciência, investigando a realidade, contribuindo para a geração e disseminação dos conhecimentos.
Embora a responsabilidade pela construção de uma sociedade mais justa seja de todos nós e a atuação das instituições universitárias seja estratégica para tal, essas entidades não devem nem pretendem substituir o papel do Estado, que precisa continuar sendo o maior responsável pelo desenvolvimento social. Sem substituir Governos, o papel da universidade é o de construção de “novos espaços públicos”, que agregam atores sociais múltiplos e diferenciados.
Esses novos espaços públicos sinalizam a importância dessas iniciativas, onde se enraízam experiências, métodos e práticas que formam uma biblioteca invisível de soluções para redução de nossos problemas sociais.
Apesar de sua importância, os programas sociais universitários ainda são apenas parcialmente conhecidos. Em 2003, pela primeira vez, o Censo da Educação Superior reuniu informações sobre atividades de extensão universitárias no Brasil. Segundo esse levantamento, 180.009.269 atendimentos foram realizados naquele ano. Os dados revelam uma outra educação superior, bastante diferente do que as informações isoladas de graduação ou pós-graduação permitiam enxergar.
Apenas no Estado de São Paulo, as instituições de ensino particulares prestam, anualmente, mais de seis milhões de atendimentos de natureza assistencial. Em nossa região, sem alguns desses serviços universitários poderia haver um caos no atendimento às populações de baixa renda. São instituições particulares com caráter público.
Um exemplo são os serviços prestados pela Unisanta nas mais diversas áreas do conhecimento, como os 240.000 atendimentos em 15 especialidades de Fisioterapia, sendo referência no tratamento de amputados, que chegam de todo litoral, outras regiões e até outros Estados; os 171.000 atendimentos em Odontologia; 49.860 de assistência jurídica e 14.300 laudos técnicos. Seu Programa de Alfabetização de Jovens e Adultos atingiu até agora 29.000 pessoas carentes, nas periferias da Baixada Santista e no Norte, Nordeste e Centro-Oeste do País. O Programa Proeducar de Educação de Valores possibilitou a inclusão digital e social de mais de 8.000 crianças e jovens desfavorecidos, entre muitos outros programas interdisciplinares mantidos.
Ao lado do trabalho sério e comprometido com seus estudantes, a Universidade Santa Cecília desenvolve ações para favorecer também o empreendedorismo individual e grupal, a criatividade e o enfrentamento coletivo dos problemas de comunidades carentes, além de reconhecer a existência de saberes populares, que nos cabe recuperar e valorizar. Em parceria com o Estado, empresas, sociedade civil e comunidade, o objetivo dessas ações é a promoção da cidadania e de uma sociedade mais igualitária.
O sistema privado é parceiro fundamental para a oferta de educação superior no País. Além de responder pelo maior número de matrículas e das inúmeras bolsas de estudo, o setor está oferecendo outras por meio do ProUni – Programa Universidade para Todos, em parceria com o Governo Federal e, com o Governo Estadual, para os Programas Escola da Família e Jovens Acolhedores.
Essencial é o papel da mídia em mostrar as experiências positivas de trabalhos voltados para camadas da população pobres ou abaixo da linha de pobreza no Brasil.
No nosso País, cerca de 21 milhões de brasileiros podem ser considerados indigentes e 50 milhões como pobres. Apesar do assustador número de pessoas abaixo da linha de pobreza no Brasil, a causa principal da exclusão social brasileira não é a falta de recursos no País. Nossa renda per capita coloca-nos no terço mais rico entre os países mais ricos do mundo. Em países com renda semelhante à nossa, a população pobre atinge 8% da população. No Brasil, ela representa 30%.
Em um país com uma das maiores concentrações de renda do mundo e um dos mais altos níveis de carga tributária do Planeta, o Estado precisa assumir seu papel social. Tanto a pobreza como a exclusão social são conseqüências dos impactos de políticas públicas, prioridades e ações dos governos.
Neste cenário, complexa é a missão das universidades brasileiras, confrontadas com os grandes desafios que o País enfrenta. Sabemos, professores, alunos, funcionários e dirigentes empenhados na excelência acadêmica e no compromisso social, que a realidade brasileira não permite desperdiçar tempo nem vidas. E é sempre bom lembrar, com Drummond de Andrade, que “o desperdício da vida está no amor que não damos, nas forças que não usamos e na prudência egoísta que nada arrisca”.
*Lúcia Maria Teixeira Furlani é Presidente da Unisanta – Universidade Santa Cecília,
Diretora do Semesp – Sindicato dos Estabelecimentos de Ensino Superior do Estado de São Paulo e Doutora em Psicologia da Educação