Apesar do fácil acesso e da presença humana, a Ilha de Urubuqueçaba permanece praticamente intacta. Um monitoramento realizado pela bióloga Zélia Rodrigues de Mello, da Universidade Santa Cecília (UNISANTA), revela que aumentou a diversidade de algas e briófitas no local. As plantas, que vivem enraizadas em rochas, são fontes de alimentos para siris, mariscos e outros animais.
‘‘Se há mais diversidade de algas e briófitas, é sinal de que há também mais animais se alimentando desses organismos’’, explica Zélia.
Curadora do Herbário da Unisanta, a bióloga trabalha para concluir até o final do ano um guia de educação ambiental sobre os 22 tipos de algas encontradas na orla de Santos, especialmente na Urubuqueçaba. No Brasil, há mais de três mil espécies catalogadas.
‘‘Alguns tipos de briófitas que encontramos na ilha tiveram de ser mandados para universidades do exterior para serem identificados. É um trabalho minucioso’’.
Segundo Zélia, algas verdes e vermelhas e briófitas se adaptam melhor em ambientes protegidos da ação humana. Nos cerca de dois mil metros quadrados de ilha, elas aproveitam a claridade e um pouco da sombra criada por árvores e imensas rochas.
A pesquisadora lembra que na década de 50, na ilha, teriam sido encontradas algas de tonalidade parda. A espécie, entretanto, mais sensível à poluição marinha, desapareceu há décadas.
‘‘O que a gente já percebeu e pode dizer com toda certeza é que hoje a ilha encontra-se muito bem conservada, apesar de tão próxima do homem’’, avalia a bióloga.
Frequentadores
A cerca de 260 metros da costa, Urubuqueçaba costuma ser frequentada por pescadores e marisqueiros. Eles atuam, principalmente, na parte da ilha que fica voltada para alto-mar.
Durante as seis horas diárias em que o nível da maré fica abaixo do normal, é possível acessar a ilha a pé. O mar que banha as praias do José Menino, em Santos, e do Itararé, em São Vicente, se abre e permite chegar bem perto.
Na trilha que leva ao ponto predileto dos pescadores já é possível notar a presença de aves, evidenciada tanto pelas fezes ressecadas que mancham pedras e plantas de branco, quanto pelas penas de tons claros e escuros caídas pelo solo.
O caminho é bastante acidentado e, em alguns trechos, extremamente íngrime. ‘‘É preciso muito cuidado’’, alerta o guarda-vidas do Corpo de Bombeiros Maurio Rodrigues dos Santos.
Ontem, ele abriu uma exceção e acompanhou a bióloga Zélia de Mello e uma equipe de A Tribuna na caminhada pela ilha. Normalmente, os bombeiros avisam às pessoas que é perigoso entrar na ilha, ainda mais para quem não conhece bem o local. A visitação pública não é permitida.
Mergulhadores raramente são vistos no entorno da ilha, onde a correnteza costuma ser forte. Além disso, a água não é clara a ponto de propiciar um bom campo de visão.
Recanto de aves
A vegetação de Urubuqueçaba é composta basicamente por pitangueiras, figueiras e jerivás — o mais predominante dos três tipos de palmeiras que podem ser encontradas na ilha.
A fauna é restrita a aves como urubus, gaivotas, atobás e biguás. O nome Urubuqueçaba, derivado do vocabulário tupi-guarani, seria uma referência ao fato de urubus usarem a ilha como uma espécie de pousada. O fenômeno pode ser observado até hoje.
Ontem pela manhã, com a maré baixa, um bando de biguás descansando em uma das árvores chamava a atenção dos banhistas que passavam em frente à ilha. Uma cena que o guarda-vidas Maurio descreveu com simplicidade: ‘‘É uma ilha tão bela. E a gente, às vezes, não dá a devida atenção’’.
Saiba mais
Os estudos sobre a flora da Ilha de Urubuqueçaba começaram em 1992 e foram publicados em 2003 na Iheringia, uma revista de Porto Alegre especializada em Biologia. Urubuqueçaba foi a primeira de um grupo de cinco ilhas estudadas, que inclui a Ilha das Palmas (também em Santos) e as Queimada Pequena, do Castilho e de Peruíbe, todas no Litoral Sul. Zélia Rodrigues de Mello, da Unisanta, está pedindo autorização ao Ibama para estender a pesquisa às 129 ilhas localizadas no Litoral Paulista.
Evandro Siqueira – jornalista de A Tribuna