Pesquisa analisa como a combinação de ibuprofeno e microfibras de poliéster afeta organismos marinhos. O estudo pode subsidiar políticas públicas ambientais.

O ambiente aquático sofre diariamente com os impactos da poluição produzida pelos seres humanos. Entre os contaminantes emergentes, as microfibras sintéticas provenientes do desgaste de roupas, seja pela lavagem ou pelo uso, e os medicamentos como o ibuprofeno demonstram um quadro preocupante para a saúde dos ecossistemas.

Por isso, a estudante do Mestrado em Ecologia da Universidade Santa Cecília (Unisanta), Daniela Barbosa Lopes, escolheu desenvolver uma pesquisa que investiga os possíveis efeitos dessas substâncias no bioma marinho, com foco nas ostras, que são importantes filtradoras naturais e essenciais para o equilíbrio do meio ambiente.

“A ideia de fazer esse experimento surgiu do fato de eu ser farmacêutica e querer analisar a toxicidade de fármacos pensando nos anti-inflamatórios e a gente já sabe do nível de toxicidade de humanos. Dentro do programa de ecologia, eu queria trazer isso para a questão do ecossistema mesmo de sustentabilidade e unir as duas coisas”, explica Daniela.

O ibuprofeno, um dos medicamentos mais utilizados e comercializados no Brasil e no mundo, chega aos corpos d’água principalmente pela eliminação via urina após seu consumo. Ao chegar ao ambiente aquático, pode interagir com outras substâncias poluentes, como as microfibras sintéticas e alterar sua toxicidade. “A gente quer entender qual é esse impacto toxicológico da exposição crônica do medicamento adsorvido nas microfibras envelhecidas em ostras”, ressalta.

Com orientação da docente Gabriela Pustiglione Marinsek e coorientação da Profa. Helen Sadauskas, o projeto é realizado em parceria com o Laboratório de Morfofisiologia Animal da Universidade Estadual Paulista (Unesp). Segundo Gabriela, o principal desafio da pesquisa é identificar a interação ente a microfibra e o medicamento que pode aumentar a toxicidade dos poluentes.

“Como essas fibras de poliéster que geramos nas nossas roupas acabam afetando o ambiente aquático, principalmente os organismos filtradores, como as ostras? E como elas se comportam quando encontram outros contaminantes no ambiente aquático, como o ibuprofeno?”. Para ela, o contato entre diferentes poluentes pode aumentar a toxicidade dos poluentes, um fenômeno que ainda está sendo desvendado.

Ainda segundo a docente, a pesquisa pode contribuir para o desenvolvimento de políticas públicas que regulem esses contaminantes emergentes, ainda sem legislação específica. “A ideia é que a gente consiga gerar subsídios para que daqui a um tempo conversarmos sobre políticas públicas, para conseguir mitigar o efeito desses contaminantes nos ambientes marinhos, porque a gente pensa que consome essas ostras e quando consome, acaba querendo ou não consumindo os contaminantes que elas estão perambulando”, comenta.

Para ter todos os resultados, na prática, o estudo envolveu a montagem de tanques experimentais, onde as ostras foram expostas ao ibuprofeno e a microfibras de poliéster. Após o período de exposição, os organismos foram abertos e preparados para análises laboratoriais.

De acordo com a estudante, a próxima fase da pesquisa precisa ser realizada por uma única pessoa, sendo a mesma pesquisadora a analisar da primeira à última amostra para que os resultados sejam consistentes e comparáveis, evitando variações que poderiam comprometer a integridade dos dados.

A defesa da dissertação está prevista para ocorrer em março de 2026.