Pombos podem transmitir doenças novas pela proximidade com os seres humanos, aponta estudo de Eduardo Filetti, pesquisador da Unisanta

Pesquisa foi realizada de fevereiro de 2015 a janeiro de 2016 e detectou, nas aves, a presença de protozoários e helmintos comuns aos seres humanos.

Um estudo realizado com pombos dos municípios de Santos e São Vicente indicou que as aves podem transmitir doenças novas pela proximidade com os seres humanos. A pesquisa foi desenvolvida pelo médico veterinário e pesquisador da Universidade Santa Cecília (Unisanta), Prof. Eduardo Filetti, no período de fevereiro de 2015 a janeiro de 2016, em 133 pontos das cidades, e contou com a participação de estudantes de Ciências Biológicas da Unisanta.

Foi detectada a presença de protozoários e helmintos que não haviam sido encontrados nas excretas dos pombos em pesquisas anteriores, evidenciando que estas aves podem disseminar agentes patógenos ao homem.

De acordo com Filetti, foram coletadas 311 amostras de fezes dos pombos após a alimentação das aves, e posteriormente, analisadas em laboratório. Foi encontrado o agente Endolimax nana, natural do trato intestinal humano e inofensivo para as pessoas. Sua presença nas fezes dos pombos é um indicativo de que eles estão se alimentando de lixo e fezes produzidas por seres humanos. A Entamoeba coli, presente na flora intestinal (intestino grosso humano) também foi detectada.

“A presença destes dois agentes demonstra que estas aves tiveram, em sua maioria, contado com fezes humanas e/ou material contaminado por fezes, em sacos de lixo, aterros sanitários, cemitérios e etc”, afirma Filetti.

Outros protozoários comuns ao homem também foram encontrados durante as análises, entre eles, o Chilomastix sp; a Giardia sp, muito comum em verduras e frutas mal lavadas, além do Crytosporidium spp. Também foram detectados helmintos como o Ascaris Lumbricoides, a bactéria causadora da Salmonelose e o nematoide Ancylostoma duodenale, parasita comum em fezes de cães e gatos não vermifugados.

“Devemos sempre lembrar que esses protozoários causam maiores problemas em pessoas que estejam com diminuição das defesas orgânicas. A liberação destes organismos no meio ambiente pode contaminar a água, alimentos, praças, cemitérios, jardins e outros espaços públicos e privados, já que os pombos podem excretar material contaminado sobre grãos, verduras, legumes e frutas armazenadas, disseminando o agente”.

Doenças – Assim como fezes humanas, de cães ou gatos, as fezes das aves podem causar conjuntivites, otites e dermatites caso em contado com os olhos, ouvidos e pele, respectivamente. Geralmente são facilmente curadas com tratamento correto. Segundo o veterinário, o maior problema são as fezes secas, pois podem conter fungos de difícil diagnóstico, causando doenças graves, como a Histopalmose e a Criptococose.

“A Toxoplasmose é atribuída de forma errada aos pombos. Para se pegar esta doença dos pombos tem que comer carne mal passada, de uma ave contaminada. O brasileiro não costuma consumir carnes de pombos”, explica.

Características – As espécies que habitam o nosso estado são descendentes do Columba livia livia, originários das regiões rochosas do leste Europeu e norte da África. Alimentam-se em grupos preferencialmente, de grãos e farelos, mas, em virtude da proximidade com os seres humanos, estão comendo também legumes, frutas, verduras, massas e até restos de lixo. Para o pesquisador, este tipo de alimentação justifica o grande número destas aves em portos, locais de carregamento e descarregamento de grãos, lixões, igrejas, praças com barracas de alimento, praias e centros urbanos. A reprodução está relacionada a disponibilidade de alimentos oferecidos.

Pesquisa – O grupo também realizou uma pesquisa para identificar se a população gosta das aves e as alimenta. 61% dos entrevistados gostam dos pombos, mas acham que eles estão em um número acima do desejado. 36% não gostam e não queriam que elas estivessem nas cidades. Apenas 12% afirmou que as alimentam.

Hiperpopulação de pombos – Conforme as conclusões dos estudos, Santos possui aproximadamente 230 mil pombos, enquanto São Vicente tem 190 mil aves. Para o veterinário, algumas causas podem explicar o aumento do número de pombos nas cidades.

“Existem alimentos em abundância no porto, que contribuem com a maior fatia da alimentação destas aves. Muitas pessoas alimentam estas aves, colaborando com o seu crescimento. Poderíamos tentar diminuir o derramamento de grãos na cidade, principalmente na área portuária. As construções antigas oferecem uma quantidade enorme de vãos, frestas e espaços que servem para pouso, abrigo e formação de ninhos, protegendo as aves das ações do tempo”, disse Filleti.

Para ele, a solução seria “diminuir a fonte de alimentação na área portuária, cuidar melhor do lixo produzido na cidade, fazer pombais alvos, nos quais haveria substituição dos ovos, e dar alimentação com anticoncepcionais, o que poderia reduzir em 53% a reprodução destas aves, sem causar nenhum prejuízo ou sofrimento para elas. As aves são protegidas pelo IBAMA”, alerta o veterinário.