A escolha da Universidade Santa Cecília (UNISANTA) para sediar e representar o Brasil no primeiro encontro internacional do Projeto EcoManage, de 14 a 17 deste mês, é resultado de uma década de estudos pioneiros na área de modelagem matemática hidrodinâmica. Trata-se do desenvolvimento, gestão e calibragem de softwares que simulam, em computador, o comportamento das correntes marítimas, em função das marés e dos ventos; a dispersão dos poluentes; as comunidades biológicas e as características socioeconômicas dos estuários, de maneira integrada. O sistema virtual permite prever e atenuar danos ecológicos em casos de vazamentos, construção de marinas, aterros e outras intervenções do homem e da natureza, sob diversos cenários.

As parcerias existentes entre a UNISANTA e usuários como a Companhia Docas do Estado de São Paulo (Codesp), Cetesb (Companhia de Tecnologia e Saneamento Ambiental) e Sabesp (Saneamento Básico do Estado de São Paulo) foi outro fator do acolhimento para a proposta da Universidade Santa Cecília para o Projeto, com a chancela da União Européia (UE).

O Projeto EcoManage- Sistema Integrado de Gerenciamento Ecológico de Zonas Costeiras (Integrated Ecological Coastal Zone Management) será desenvolvido em três anos, em caráter inédito na América do Sul. O principal objetivo é fornecer subsídios aplicáveis no desenvolvimento e gerenciamento sustentável integrado sob aspectos físico, ecológico e socioeconômico para a região estuarina de um dos maiores Portos do mundo, o porto de Santos; a Baía Blanca, na Argentina e o Fiord de Aisén, região costeira dos Andes, no Chile.

O professor Gilberto Berzin, que desenvolve o Modelo Hidrodinâmico da UNSANTA desde 1995, iniciou seus estudos em Portugal com bolsas do CNPq, em 1993. Coordenador geral do Projeto pela UNISANTA, ele está em fase final de doutorado sobre esse tema, no Instituto Superior Técnico de Lisboa (IST), parceiro da UNISANTA desde 1995. “A UNISANTA adota o modelo hidrodinâmico (MOHID) do IST, que é um dos mais avançados do mundo”, afirma Gilberto Berzin.

Participantes – Do Brasil, participa ainda o Instituto Oceanográfico da Universidade de São Paulo (USP). Caberá a UNISANTA os estudos de Hidromodelagem dos dados físicos do oceano, os levantamentos sobre a flora e a fauna da borda do estuário santista e os estudos socioeconômicos. A USP pesquisará a produção primária da cadeia alimentar (fitoplanton) e a ecotoxicologia da água do lodo na área do canal. Holanda, Itália, Chile, Portugal e Argentina enviarão representantes.

São cientistas das áreas de Ecologia e Ciências Sociais, que pretendem combinar suas competências no Projeto EcoManage, com o objetivo de desenvolver um sistema integrado que subsidie decisões na difícil tarefa do gerenciamento integrado da zona costeira. Segundo os pesquisadores do Projeto, três aspectos fundamentais serão considerados. O primeiro é que as zonas costeiras são afetadas por condicionantes locais e também pelas originadas em toda a bacia hidrográfica. O segundo, é que as atividades socioeconômicas são forças motrizes de pressões sobre o meio ambiente, que, por sua vez, repercutem sucessivamente na realidade socioeconômica. O terceiro aspecto refere-se ao fato de que os impactos dependem das características físicas do ecossistema, que, em conjunto com as chamadas cargas antropogênicas (de origem humana) determinam seu estágio ecológico.

Tecnologias – O Projeto pretende fazer uso de imagens de satélites e levantamentos/estudos já realizados. As pesquisas objetivam uma base de conhecimento do estuário e a administração ambiental da bacia, de modo a permitir respostas para intermediar questões comuns e niveladas, e um sistema de apoio para prover diretrizes visando à restauração e ao desenvolvimento daqueles ecossistemas, com tecnologias similares às recomendadas pela União Européia.

Serão avaliadas zonas costeiras com interesses conflitantes, onde se fazem presentes de forma intensa as pressões urbanas, industrial e agrícola versus qualidade do ambiente. Fábio Giordano, doutor em Ecologia e professor da UNISANTA, afirma que o sistema a ser desenvolvido será útil para áreas diferentes: a do Porto de Santos, na zona tropical, com problemas de assoreamento e aterros do mangue; a Baía Blanca, em área com características climáticas temperadas e depósitos de gelo no estuário, e o Fiord do Chile, com grandes montanhas e profundidades de 200 metros no canal, bem maiores do que os de Santos, com profundidade máxima de 14 metros.

As relações entre as origens e as conseqüências dos problemas ambientais serão descritas utilizando o enquadramento DPSIR (Forças Motoras, Pressões, Estado, Impacto e Respostas), do Inglês: Driving forces, Pressures, States, Impacts and Responses.

Dados de campo e resultados de modelos serão incluídos num Sistema Espacial de Apoio à Decisão, que permita a avaliação e otimização de cenários de gerenciamento. O projeto poderá ainda auxiliar a redefinição ou a criação de regras para o funcionamento dos sistemas e, desta forma, melhorar o gerenciamento ambiental dos estuários e zonas costeiras, tendo como objetivo o desenvolvimento sustentável.

Os utilizadores locais do Projeto são a Codesp, Sabesp, IBAMA, Cetesb, Ministério Público, Comunidade Científica, Organizações das Sociedades Civis de Interesse Público (OSCIPs) e grupos de participação ambiental.

Instituições – O Coordenador Geral da primeira reunião do EcoManage é o Prof. Dr. Ramiro Neves (IST- Portugal). Participam ainda especialistas do Instituto Oceanográfico da Universidade de São Paulo (USP); Hidromod, Engenharia em Modelação Ltda. (SME – Portugal); Noctiluca (SME- Países Baixos); Laboratório Nacional de Engenharia Civil (LNEC – Portugal); Universidade de Trieste (Itália); Instituto Argentino de Oceanografia (IADO – Argentina); Universidade do Chile e Centro Ecologia Aplicada (CEA – SME – Chile).
Da UNISANTA, participam, além dos professores Gilberto Berzin e Fábio Giordano, os engenheiros Aldo Ramos, Alexandra F. P. Sampaio e os biólogos João Miragaia Schimegelow, Orlando Couto Júnior, Augusto César, Roberto Borges, Camilo Seabra e Sérgio Rodrigues, A supervisão geral é dos engenheiros Aureo Pascoaleto Figueiredo e Antonio de Salles Penteado, diretores da Engenharia.

Programa – A abertura solene do EcoManage será às 17 horas do próximo dia 14 de fevereiro. No dia 15, das 9 às 12 horas e das 14 às 17h30, haverá as apresentações técnicas do Brasil, Portugal, Holanda, Itália, Chile e Argentina.

No dia 16/02, às 9 horas, visita à Baía e ao estuário de Santos. As Metodologias para o trabalho de campo, modelagem e socioeconomia é o tema para dia 17, das 9 às 12 horas, que será discutido em mesa-redonda com os utilizadores locais. Das 14 às 17h30, os grupos de trabalho farão os estudos finais, projetando as atividades futuras.

Informações nos endereços ecomanage@unisanta, www.unisanta.br/nph/ecomanage Rua Oswaldo Cruz, 266, Boqueirão, Santos.

Financiamento – O aporte financeiro da UE é de um 1,4 milhão de euros, para todas as instituições participantes. O EcoManage é dirigido aos tópicos de pesquisa Uso racional de recursos naturais e Reconciliar demandas múltiplas em zonas costeiras no âmbito do Programa INCO – International Cooperation, que está incluído no Sexto Programa Quadro de Pesquisa da Comissão Européia.

O Projeto tem ainda como motivação a importância que os ecossistemas costeiros têm para o desenvolvimento dos países nele envolvidos. Nos países integrantes, os ecossistemas costeiros, e os dos estuários em particular, foram historicamente preferidos como locais de uso urbano, devido à abundância de recursos naturais, e à facilidade de desenvolver comércio por via marítima com a criação de portos.