A nadadora, que viu sua garrafa de alimentação ser derrubada, retoma os treinos dia 1º. Ela está pronta para novos desafios a partir de outubro, quando nadará na China, pela Copa do Mundo. Ela se inspira em atletas como Poliana Okimoto, que não terminou a prova em 2012, mas conquistou a medalha olímpica neste ano.

“Foi difícil começar a aceitar, mas a gente está aí, de volta à luta”. Ana Marcela mostrou aos jornalistas sua confiança no que ainda vai mostrar aos brasileiros nas próximas maratonas aquáticas, ao falar com a imprensa na manhã desta terça-feira (23/8). Ela deu entrevista durante o lançamento do projeto de lei que o deputado federal João Paulo Papa está elaborando para instituir o Dia Nacional da Maratona Aquática, a ser comemorado anualmente no dia 23 de agosto. A iniciativa é da Fundação Ana Marcela, com apoio do Pró-Reitor da Universidade Santa Cécilia (Unisanta), Marcelo Teixeira.

Os jornalistas que participaram da coletiva mostraram muito respeito pela nadadora, por seus ótimos resultados anteriores e competência. “Foi um acidente inesperado, uma menina tocou meu braço e a garrafa de alimentação caiu. Estava no pelotão e decidi continuar. Dei o meu melhor, mas não consegui. É um aprendizado que deixarei para as próximas provas”, afirmou a nadadora.

O exemplo de Hypólito-  Ana Marcela  admitiu ter ficado abalada com o incidente. “É lógico que eu chorei. Conversei com minha psicóloga naquele dia e me recuperei. Foi difícil aceitar no começo. Sou muito nova, tenho 24 anos e me inspiro em exemplos dentro de casa, como a Poliana Okimoto, que nem terminou a prova em 2012 e hoje tem a medalha. Como o Diego Hypólito, que caiu em duas olimpíadas e se levantou”. Ela se referia à prata ganha por Hypólito na Rio 2016, após quedas anteriores.

“Eu queria um resultado melhor. Saí da água chateada, mas, com a certeza, dei o meu melhor. Eu estava ali representando todos os brasileiros, 200 milhões de pessoas, foi muito importante.  Chegar lá, fazer o seu melhor, relembrar tudo o que passou, fazer dieta, fisioterapia, treinar 80km em uma semana, as dores do treino e a preparação na parte física.,, Tudo mais do que  100% para ter um bom resultado. Se eu não estivesse preparada (para nadar sem alimentação adequada), não teria concluído os sete quilômetros”.

 A maratonista disse que, às vezes, é muito difícil explicar o preparo de um atleta. “O caminho é longo, mas eu viveria tudo de novo. Não mudaria nada do que fiz para chegar a essa Olimpíada, vou continuar  em busca do meu sonho, que tenho certeza que ainda não terminou. Seria maravilhoso se todo mundo entendesse nosso lado.  Minha rotina não é de sacrifício porque eu amo o que faço e faço com prazer. E vou repetir até 2020, 2024. É o que eu amo fazer. Sempre dou o melhor a cada treino”.

Treinos e próximos passos – Ana não pretende mudar nada em seus preparativos, mas tanto ela quanto seu pai gostariam que fosse aperfeiçoada a forma de se utilizar das varas de alimentação durante as provas. A dra. Lúcia Teixeira, presidente do Complexo Educacional Santa Cecília, informou que o Laboratório de Operações Unitárias da Unisanta, que fornece módulos didáticos de Engenharia a instituições de ensino públicas e particulares, estuda o assunto.

Quanto à preparação de Ana Marcela, o técnico Marcio Latuf também afirmou que não mudaria nada.  “Não nos faltou nada. O treinamento foi árduo. Tivemos várias competições e o apoio foi muito grande da Unisanta, da CBDA, do COI, apoio total para que a gente chegasse e fizesse o melhor possível. Não conseguimos chegar na medalha por um acaso do esporte, não temos como prever isso. Foi algo que aconteceu (problema da falta da alimentação) e acabou tolhendo um sonho.

“Mas temos certeza de que, em 2020,  temos grande chance de ir atrás disso por tudo o que a Ana Marcela é: tricampeã mundial das Copas do Mundo, bicampeã mundial das provas de 25km, 3º lugar no Mundial de Kazan”, afirma Latuf.  “Vamos começar, a partir do dia 1º tudo de novo, com quatro objetivos grandes: o Campeonato Mundial de Budapeste, na Hungria, em 2017, o Pan-Americano em 2018, a eliminatória Olímpica e Campeonato Mundial em 2019 e as Olimpíadas em 2020. A próxima competição será a Copa do Mundo em Hong Kong, na China, ainda neste  ano. Estamos esperando o calendário para o próximo ano”.

Ana Marcela quer permanecer na Unisanta, voltar a estudar na Faculdade de Educação Física, que parou no segundo ano. Vai permanecer na Unisanta, a quem deve muito, segundo afirmou. “Vim para cá três anos antes de ser alguém”.  A uma pergunta, quanto ao apoio da Marinha (ela é terceiro sargento), admitiu que está pensando em seguir carreira. “Quem sabe?”.

Marcelo Teixeira reafirmou sua confiança na maratonista, que faz parte da nova geração de talentos esportivos do Brasil. Disse que o sonho dela foi momentaneamente adiado, e que ela não precisa provar nada mais a ninguém. “Estaremos com você em Tóquio, ao seu lado. Estar entre as dez melhores nadadoras não é fácil, se fosse outra ou qualquer outro nadador teria desistido”, afirmou Teixeira, que é conhecido por apoiar e organizar as maratonas e demais modalidades da natação brasileira. Inclusive organizou Maratonas Aquáticas Internacionais em Santos, às quais deu o nome de Renata Agondi.