Antes da realização do estudo, era considerada a existência de apenas uma espécie do gênero, popularmente conhecido como “gordinho”.  

A descoberta da existência de duas espécies do gênero Peprilus, fruto da parceria realizada entre renomados pesquisadores e o Acervo Zoológico da Universidade Santa Cecília (AZUSC – Unisanta), possibilitará medidas adequadas de gestão e conservação do peixe, que possui relevante importância econômica.

Com base na análise morfológica de exemplares em coleções científicas, assim como por análises moleculares (DNA), verificou-se que no litoral brasileiro ocorrem duas espécies distintas, sendo estas ainda diferenciadas da espécie que ocorre na América do Norte e Central.

Os dados relativos à exploração pesqueira consideravam apenas a existência de uma única espécie, com ampla distribuição, e a partir deste estudo, será necessário reavaliar os dados sobre sua captura, para conhecer seu real status de conservação, além de análises que visem ao conhecimento básico sobre sua biologia (como alimentação, reprodução e crescimento).

De acordo com o biólogo e curador do Acervo Zoológico da Universidade Santa Cecília, Matheus Rotundo, este trabalho evidencia a necessidade de análises morfológicas e moleculares de forma conjunta, visando a um melhor conhecimento sobre a diversidade de peixes marinhos brasileiros. “As duas linhas, durante muito tempo, viveram separadas, e os resultados eram menos complexos. Durante anos, todas as análises a respeito deste peixe tão comum, que todo mundo come, eram feitas levando em consideração a existência de uma única espécie, e após este estudo, os pesquisadores provaram que são duas, e isso muda tudo”.

Parceria – A pesquisa foi realizada pelos biólogos Alexandre Pires Marceniuk, do Museu Paraense Emilio Goeldi, com pós-doutorado pela USP, e Claudio Oliveira, da Unesp Botucatu, com pós-doutorado no Canadá, com análise do material da coleção do Acervo Zoológico da Universidade Santa Cecília, através da parceria do projeto Pró-Pesca Unisanta. O trabalho foi publicado na Revista Zootaxa, da Nova Zelândia, com circulação mundial.

Segundo Marceniuk, a escolha pelo Acervo da Unisanta se deu por ter uma representatividade muito boa em relação a outras coleções, além do foco Regional. “A Unisanta tem lotes de materiais mais novos, fixado há menos tempo, com variações de tamanho, que acabam refinando a comparação em relação a outras coleções mais antigas, que têm um número menor de exemplares”.

Marceniuk lembra ainda que o acesso ao material mais fresco, através do Projeto Pró-Pesca Unisanta, que tem por objetivo a troca de informações entre pesquisadores e pescadores, facilita a análise molecular. “Precisamos de peixes frescos, não serve material que está no arquivo há muito tempo, tem que ser coisa nova”.

Sobre o peixe – Peprilus é o nome científico do gênero, e a espécie encontrada no Brasil era identificada com o nome de Peprilus paru, popularmente “gordinho”. O objetivo foi reconhecer que não existe apenas uma espécie, e sim duas e aplicar nome correto a elas: Peprilus xanthurus e Peprilus crenulatus.

A análise foi feita em várias etapas: a morfológica, com material examinado desde a costa norte, do Museu Goeldi, do Pará; material da coleção da Universidade Federal de Alagoas; material do Museu de Zoologia da USP, que inclui desde a Argentina até o Rio de Janeiro; além do material da Unisanta.

De acordo com Oliveira, responsável pela análise molecular, as principais diferenças são: o tamanho do olho e o das nadadeiras, além da região frontal da cabeça, que é mais escura numa espécie do que na outra. “Na Unesp de Botucatu, fizemos a análise molecular da espécie, pois ainda tínhamos algumas dúvidas, e essa é uma análise mais refinada, através de sequência de DNA, e comprovamos a análise morfológica. Um trabalho complementou o outro, o do laboratório de biologia e o de genética de peixes”.

Projetos em andamento – Mais de 250 espécies de peixes marinhos e estuarinos estão sendo analisadas através desta parceria entres as três instituições. Já foram coletadas 278 amostras no Pará, 226 no Ceará; 189 no Rio de Janeiro e 731 em São Paulo, que é a base mais forte, totalizando 1424 exemplares. “A importância de se conhecer de fato a biodiversidade, revisar, ter certeza, deve ser constante,” afirma Rotundo.

Sobre o Pró-Pesca Unisanta – Com início no ano 2000, o Pró-Pesca tem por objetivo estudar a diversidade, através da interação, troca de conhecimento, de pesquisadores e pescadores. “Nós acompanhamos vários pescadores do Estado de São Paulo, em mais de 20 pontos de coleta. Dentro dessa linha, trocamos informações, com a aproximação do pesquisador e o pescador. Através desta parceria, realizamos com mais facilidade os estudos sobre a biodiversidade”, conclui o curador do acervo da Unisanta.

O Pró-Pesca Unisanta tem cadastro de mais de 200 pescadores, do litoral de RJ, SP, Paraná e Santa Catarina. O trabalho também é realizado em conjunto com alguns pescadores do Pará, Ceará, Bahia e Espírito Santo.