Sistema de acionamento de leme com as mãos, criado por alunos de Engenharia da Unisanta, será usado em competição internacional

Quando nasceu a ideia do Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) de Engenharia Eletrônica e de Engenharia Mecânica, os alunos da Universidade Santa Cecília (Unisanta), em Santos, não imaginavam que o projeto pudesse ultrapassar fronteiras, chegando a outras partes do mundo.

E isso está prestes a acontecer. O grupo criou um sistema que dispensa o uso dos pedais dos caiaques de alta performance (surfski) para que o leme seja movimentado através do acionamento com as mãos, por meio de um transmissor acoplado no remo. E esse era justamente o modelo procurado há anos pelo tetracampeão mundial de paracanoagem, Fernando Fernandes de Pádua, de 35 anos, que tem paraplegia.

Fernando soube do projeto, inclusive esteve na apresentação do (TCC) em dezembro do ano passado, e agora conta com a ajuda dos ex-alunos da Unisanta para implantar o sistema em seu caiaque e, assim, realizar um sonho antigo: participar da competição de canoagem oceânica Molokai – Oahu, no canal de Kaiui, no Havaí. O evento esportivo está marcado para o dia 27 de maio.

Trata-se de uma prova de 58 quilômetros entre as ilhas de Oahu e Molokai, em alto mar, em condições de corrente contra muito forte e ondulações que chegam a três metros de altura. Uma das mais respeitadas e difíceis do mundo, na modalidade, segundo Fernando.

“Não há ponto de referência entre as ilhas. Cada atleta tem que ter um barco de apoio, de segurança. Irei competir com pessoas que não têm deficiência e por isso, não haveria como remar se não fosse através do comando do leme no remo”. Ele comenta que, além de remar numa prova de tamanha complexidade, terá o desafio de se adequar a um novo sistema, inédito no mundo.

Todo o processo de adaptação do projeto universitário para uso na competição, desde as primeiras reuniões iniciadas neste mês de janeiro até a prova no Havaí, será gravado e irá gerar um programa de TV produzido por Fernando para o Canal Off, voltado à aventura, adrenalina e natureza, em cenários paradisíacos.

O desafio no Hawaí também será mostrado num dos episódios do programa Esporte Espetacular, da TV Globo. Fernando já gravou atividades radicais na Colômbia e Noruega, mas ainda não exibidas.

“É um trabalho em conjunto. Enquanto eu estarei me preparando fisicamente para a prova, a equipe de engenheiros da Unisanta irá aperfeiçoar o projeto inicial para ser usado em condições extremas”, disse Fernando.

Oportunidade – Entusiasmado com as possibilidades que podem surgir às pessoas com deficiência, em relação à prática do esporte, o paratleta comentou que o projeto abre um leque de oportunidades para esse público.

“Mais do que um trabalho de conclusão de curso, é a grandeza desse projeto para a canoagem adaptada, que cria um novo caminho, uma nova maneira de ter essa liberdade em alto-mar através do esporte. Algo que eu lutei durante toda a minha vida de cadeirante”, enfatizou.

Ele explica que poderia remar alguns caiaques, mas não na intensidade de sua preferência, que é a de competição, de velocidade.

Em relação ao programa que está produzindo para a televisão, Fernando revela que seu principal objetivo não é ser “super-herói” tentando realizar feitos e sim quebrar paradigmas da sociedade.

“Meu desejo é exigir respeito para que um cadeirante não seja marginalizado e possa ganhar voz. Pretendo mostrar com desafios dessa grandeza que é possível separar incapacidade de deficiência física”.

Para Rodrigo Galhego, formado em Engenharia Eletrônica, poder dar continuidade ao trabalho desenvolvido enquanto aluno é um reconhecimento que traz motivação para voos mais altos.

“Podemos evoluir com muito mais ferramentas e suporte. Inclusive estamos em processo de patente do projeto pelo Núcleo de Inovação Tecnológica (NTI) da Unisanta, coordenado pelo professor doutor João Inácio da Silva Filho”.