Santos – Com o amplo salão principal do anfiteatro do bloco E da Universidade Santa Cecília (UNISANTA) totalmente tomado, a versão cinematográfica de Revolution 9, de Marcelo Teixeira, teve sua pré-estréia regional na noite de terça-feira (27). O documentário Renata, que reúne uma legião de estrelas do teatro, cinema e televisão em sua equipe técnica, foi mostrado para um público dos mais heterogêneo: esportistas, intelectuais, políticos, autoridades civis e militares, adultos e crianças.
A emoção, porém, falou mais alto. Raul e Lucrécia Agondi, pais de Renata, ao lado dos filhos Raul, Roberto, Rosana e Rodolfo, não contiveram as lágrimas durante os 66 minutos de exibição, entre making off e o filme. Antes da sessão, Marcelo Teixeira e familiares prestaram homenagens aos responsáveis pelo filme e à família Agondi.
Renata foi extraído de Revolution 9, obra nascida a partir da leitura atenta dos diários da nadadora Renata Câmara Agondi, falecida em uma tentativa de travessia do Canal da Mancha, um braço de mar de 33 quilômetros de água gélida e escura entre a Inglaterra e a França, em 1988. A pré-estréia nacional está marcada para 23 de setembro, no Cine Sesc, em São Paulo.
Sob a direção de um dos maiores nomes do cinematografia brasileira, Rudá de Andrade, o livro ganha as telas no documentário Renata, produção enriquecida pelas atuações de dois grandes expoentes da dramaturgia nacional, Renato Borghi e Esther Góes. Livio Tragtenberg é quem assina uma trilha sonora especialmente composta para o filme. A qualidade poética de suas peças musicais valorizam sobremaneira o desfile de imagens. Esse documentário foi produzido graças à parceria entre a Universidade Santa Cecília (UNISANTA) e a TV Cultura.
Renata traz imagens em movimentos, um sem número de fotos e ainda o notável recurso da animação gráfica. Não dá para negar que George Mélies, pioneiro genial da fantasia no cinema, é uma das fontes inspiradoras de Rudá de Andrade. Mélies, alvo de significativa homenagem no Espaço Electra, em Paris, com a exposição até 1º de setembro próximo de suas memoráveis obras, primou pela integração dos mais diferentes recursos cinematográficos. O trabalho de animação de Emerson Bodadias dá vida aos criativos desenhos de.Vallandro Keating, arquiteto que percorre os caminhos da arte, em traços mais que perfeitos.
Os diários que alimentaram a narrativa de Marcelo Teixeira ganharam de Renata Agondi a denominação Revolution 9, nome emprestado de umas das músicas do épico White Album (Álbum Branco), dos Beatles, uma de suas grandes paixões. O documentário é um registro pungente de uma existência relativamente curta, mas intensamente vivida. Renata, aquariana do terceiro decanato, era uma sonhadora, mas defendia com unhas e dentes seus ideais e convicções. Em tudo que realizou entregou-se de corpo e alma. A premunição do que ocorreria no fatídico 23 de agosto de 1988 não a impediu de levar adiante seus projetos.
Retrato fiel – No livro Revolution 9, Marcelo Teixeira conseguiu retratar fielmente a personalidade emblemática da jovem nadadora. Ele obteve uma visão poética e vital de Renata, recriando, com brilho, os diários nos quais a nadadora registrava o seu cotidiano, aliás diários pontilhados de revelações quase filosóficas. No documentário Renata, Rudá de Andrade dá uma amplitude maior ao lirismo presente na obra de Marcelo Teixeira.
Tal qual o livro, o documentário não enfatiza o trágico destino de Renata Agondi, ressalta sim o legado deixado pela atleta consagrada. Marcelo Teixeira, que ainda se divide entre as múltiplas tarefas exigidas por sua condição de Pró-reitor Administrativo da Unisanta e diretor-presidente do Sistema Santa Cecília de Rádio e TV Educativas com as de presidente do Santos FC, explica que “o filme Renata é mais que uma continuidade da vontade de mantê-la eternamente viva, presente em nossos corações e mentes. Ele não é um mero documentário. Trata-se, permita-nos a ausência de modéstia, uma obra de arte, digna da profundidade contida nos pensamentos e idéias da jovem nadadora. O filme foi criado a partir de uma coletânea de imagens – muitas delas inéditas – garimpadas nas mais variadas formas de mídia”.