A Arquitetura é um ótima ferramenta para mudar o mundo”, diz Eliane, que faz mestrado na Flórida. Na infância, ela colecionava folhetos de imobiliárias e desenhava espaços imaginários. Lembra-se com carinho da Unisanta, onde se formou, em 2006, e aprendeu toda a base que lhe permite se realizar na profissão.

Após atuar em trabalhos importantes no Brasil, inclusive como um dos 12 arquitetos contratados pelo Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo, Eliane Florez Sanzone Garbero ingressou em mestrado na Universidade da Flórida (University of Florida – UF, nos Estados Unidos). Em 2018, de 16 a 25 de março, ela integrou um grupo de universidade norte-americana selecionada para uma conferência em Porto Rico, com universidades europeias, visando sugerir medidas para recuperar danos causados por furações.

“Foram dez dias de imersão na realidade da Ilha, aprendendo sobre a forma como as habitações são construídas, os materiais disponíveis e seguros, afinal, o país é afetado por pequenos sismos diários, além de chuvas tropicais e furacões durante o verão”, conta a arquiteta.

Naquela conferência estavam membros da Unesco, das Universidades da Flórida, de Sapienza, da Itália, de Sevilha, da Espanha e da Escola de Arquitetura de Porto Rico. A Telemundo de Porto Rico e a NBC NY fizeram a cobertura do evento, lembra Eliane.

Entre os palestrantes estavam o arquiteto David Gouverneur, professor da Universidade da Pensilvânia, com mestrado em Harvard, autor do livro “Planning and Design for Future Informal Settlements: Shapingthe Self-Constructed City”, e Lucio Barbera, presidente da Unesco em Qualidade Urbana Sustentável.

Ações propostas

Os estudantes puderam escolher entre cinco laboratórios de estudo: 1- assentamentos sustentáveis, gestão de água e energia renovável; 2- reuso de edifícios urbanos abandonados; 3- Habitação resiliente e planejamento urbano. 4- núcleos de emergência (abastecimento de suprimentos e mantimentos na passagem de futuros furacões); 5- oportunidades de desenvolvimento econômico.

Eliane Garniero optou pelo laboratório 3, para trabalhar com áreas com risco de alagamento nas margens da Lagoa de Corozos. Os moradores do núcleo próximo sofrem com o aumento do nível de água da lagoa. “Trata-se de um assentamento informal, onde as pessoas que ali residem não possuem a propriedade do terreno, da casa ou de ambos. Sei que esse é um problema recorrente em muitos bairros de Santos”, diz Eliane.

Ao final do nono dia em Porto Rico, cada equipe apresentou propostas de melhoria para uma determinada localidade.  Participaram das bancas de apresentação, entre outros, as prefeitas de Canovanas e Loiza, cidades que ficam ao redor de San Juan e que sofreram sérios danos na temporada de furacões 2017.

Foram desenvolvidos desde protótipos de novas tipologias de unidades habitacionais, espaços para agricultura urbana até reuso de contêineres como espaço de armazenamento de suprimentos.

Para a arquiteta, foi uma “experiência incrível”, com pessoas de vários países, o que permitiu um intercâmbio imenso de informações.  “Também aprendemos muito com os moradores da ilha sobre seus costumes, estilo de vida, e pudemos projetar em conjunto com estudantes de arquitetura de Porto Rico, de forma que os projetos desenvolvidos pudessem atender de fato às reais necessidades”.

“Ainda há muito que ser feito, sem dúvida, mas hoje, mais do que nunca, entendo que é preciso começar de alguma forma, que a união faz toda a diferença e a arquitetura é realmente uma poderosa ferramenta para ajudarmos a mudar e a melhorar o mundo”, reitera Eliane.

A equipe visitou áreas próximas a San Juan, também muito afetadas pela última temporada de furacão.  Eliane ficou assustada em ver que muitos dos danos (rodovias que foram interrompidas por deslizamentos, casas onde sobrou literalmente só o piso) ainda não haviam sido reparados mesmo depois de seis meses.

“O interior da ilha ainda estava sem energia por causa da queda de diversos postes de transmissão. E o mais aterrorizante é que a temporada de furacões 2018 havia começado mais cedo, no início de junho”.

A infância e a Faculdade

Eliane Garbero nasceu e foi criada em Santos. Desde pequena, nunca se viu trabalhando em outra área que não fosse arquitetura. Colecionava os panfletos de imóveis que são distribuídos nos semáforos e brincava de desenhar espaços.

“Ir para a faculdade nunca foi tedioso pra mim, sempre gostei de estudar e passei os cinco anos sem ir a nenhum bar. Nunca me considerei ‘nerd’, mas sempre foi esse o meu perfil”.

Professores

A arquiteta lembra-se com saudades das aulas de História da Arte e da  Arquitetura com a profª Ana Kalassa, das aulas de Conforto Ambiental com o prof. Cesar Capasso, dos atendimentos de estúdio com a profª Maria Valquiria Barbosa, “dos meus atendimentos para o Trabalho Final de Graduação com o prof. Edison Fernandes, que sempre aconteciam no escritório dele, com a presença do Cao, o cachorro pit Bull super mansinho que era o mascote do escritório”.

Durante a faculdade, ela fez seis meses de estágio na Prefeitura Municipal de Santos, no escritório Passarelli Zonis, também em Santos, por dois anos e meio. “O conjunto faculdade mais estágio na Passarelli Zonis aprofundou ainda mais minha paixão pela arquitetura”.

Depois de se formar em 2006, mudou-se para São José do Rio Preto, onde trabalhou por três anos em um conceituado escritório de arquitetura e design de interiores. Em 2011, recebeu uma proposta para integrar o time de profissionais da maior construtora de habitação popular pelo sistema Minha Casa, Minha Vida do país, a MRV Engenharia.

Em 2013, dada a experiência que adquiriu naquela empresa com projetos de prevenção e combate a incêndio, projetos elétricos, hidráulicos e de acessibilidade, Eliane conseguiu a vaga para ser um dos doze arquitetos do Tribunal de Justiça de São Paulo, através do consórcio de duas empresas, Argeplan-Concremat. Foram mais de três anos fazendo vistorias em prédios do TJSP, elaborando relatórios para indicar serviços e materiais e analisando planilhas orçamentárias para a execução dos serviços de obra e reparo.

Novos desafios: o mestrado

Apesar de estar satisfeita profissionalmente com sua experiência no Brasil, Eliane Garbero sentia a necessidade de voltar a estudar. E queria um desafio maior, ter essa experiência em outro país. Escolheu fazer o mestrado na Universidade da Flórida, “porque ela é muito bem conceituada, é a 3ª das dez melhores universidades públicas dos Estados Unidos”.  Também conseguiu uma bolsa de estudos LAC (Latin Amercia & Caribbean) Scholarship, por ser brasileira.

“Mas essa bolsa apenas se aplicaria se eu estudasse no campus principal da Universidade, em Gainesville. Eu iniciei o curso lá, porém consegui transferência para o campus do CityLab, em Orlando. Optei por pedir a transferência, mesmo tendo que abrir mão da bolsa. A diferença do valor do crédito não era tão grande e Orlando estava em franco crescimento. Então, eu teria mais oportunidades de estágio, o que realmente aconteceu. No início de junho, comecei a estagiar em um escritório de arquitetura em Orlando”.

Em janeiro deste ano, foi a uma feira de construção (National Association of Home Builders – NAHB – International Builders’ Show), que ocorre anualmente nos Estados Unidos, cada ano em uma cidade diferente. “A de 2018 foi em Orlando e pude assistir a uma breve palestra com Drew e Jonathan Scott, do programa Irmãos à Obra. Sou super fã do trabalho deles”.